Nos meus braços



Quero que entre os meus braços caia o teu dormir como entre muralhas asiáticas. Quero, com o meu sopro, devolver a vida a quem me mostrou tal desejo. Um amanhecer, um duplo bater de coração a despertar, dando aos seus olhares aventuras que percorrem com pasmo o mundo e, no regresso, conquistas de estranhos sóis.

Mas deve o homem transmitir o culto das suas loucuras? Deve nos seus delírios arrancar do nada os segredos do passado? Aqueles seres, aquele jogo de grande sedução da nossa morte e o efémero arder da nossa carne, sombras que deslumbram, continuam a viver ocultos no interior das árvores, devolvidos à natureza em que nasceram.

Comentários

Maria disse…
O seu rosto: os olhos, os lábios. Olhou para mim. Eu vi os seus olhos parados em mim. Estava diante de mim. Nunca a distância que nos separara havia sido tão curta. Eu não tinha braços para lhe estender. Eu só tinha os meus olhos para a abraçar. Os nossos olhos eram atravessados pelo corpo fino das chamas que se levantavam no quarto.

Ela disse: a tua vida foi muito importante. Eu amava-a ainda... O amor é o sangue do sol dentro do sol. Algo dentro de qualquer coisa profunda...

Ela disse: estavas certo desde o início, o amor é tudo o que existe.

Ela olhou muito para mim. Ela era o seu rosto de menina, a sua pele pura. Lembrei-me dos meus dedos sob a água limpa de uma fonte. Ela era a mulher mais bonita do mundo. Ela era a manhã sob o céu a iluminar a claridade.

Ela disse: amo-te. Ela, o seu rosto puro, diante de mim, as chamas, o fogo, disse: amo-te... Eu sorri tanto. Fui feliz...

[J.L.Peixoto]

Plena e intensamente...
Contigo.
Unknown disse…
«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, - talvez que não o suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.
...
Soberbo dia! Impunha-me respeito
A limpidez do teu semblante grego;
E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar o teu peito.

[Cesário Verde]

E mais. Tudo mais.

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