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A mostrar mensagens de abril, 2010

Sobre o existir II

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É a vida perversa, quando qualquer acto é uma coisa que não morre? E os nossos pensamentos, rápidos como luz; voam no mundo? Até o nosso lento bater de coração, mensurado, provoca o latejar de outros, e as lágrimas deixadas cair despertam um soluçar ecoado. Não escrevemos na areia, mas num livro firme do sentir dos outros.

Sobre o existir

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É a vida uma hora em vão e sonhar ocioso? É este mundo uma realidade solene, ou uma aparência transitória? É o nosso destino uma coisa com a qual podemos brincar? É a vida um fluxo crescente em que flutuamos; mas, não importa onde a nossa estranha viagem nos leva? Todos os dias nos leva mais longe; atrevemo-nos então, no desatento ir, nunca perguntando para onde?

Toque de passagem

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O que é a vida senão um toque de passagem sobre o mundo; uma pegada nas praias terrestres que a próxima onda irá apagar; uma marca de algo que passou; uma sombra numa parede que se afasta ao olhar a substância; uma gota de uma nuvem a cair numa pedra, numa folha. É um momento contigo que vale uma eternidade.

Agora a luz

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A luz recua; esticas-te com as mãos a tactear, enquanto as terras que atravessas se escondem da tua vista, misteriosas, dobradas em noite profunda. Não te importas, de todas as exigências queres agora a luz. E ali fica. Nunca conseguirás agarrar este brilho fugaz, a sua chama morreria se fosse apanhada, o seu valor é aquele que sempre pareceu ter sido. Atormentado, mas iluminado, és levado ao desconhecido. Não estás a sonhar.

Lovers spit

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É recorrente na primavera, quando se sente forte e esperançoso, e é traduzido o seu significado na música em que se envolve. É uma canção sobre o viver – sobre noites caídas de inverno; cantam-na homens e mulheres, cantam-na os amantes.
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Falo sobre a alegria de viver e da distância do inverno. Pulso com o selvagem, com a vasta liberdade do mundo fora de portas. Na floresta ouvi claramente as palavras ditas; esta é a estação do acasalamento e do amanhecer das aves. A paixão não pode ser posta aparte, ela move-se no profundo do ser e ergue-nos como a lua à maré.

Mutabilidade

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A manhã ilumina o céu, as horas começam a passar em direcção ao meio-dia; as sombras reunem-se uma a uma lentamente em direcção ao pousar solar. Faz-se o dia de céu mutável, da alegria ao arrependimento, de sorrisos a lágrimas, da paz ao tumulto, de esperanças a receios e de novo -ao amanhecer, do cinzento ao dourado, ao desaparecer da noite- a felicidade de renascer.

Queda livre

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Pensei na vida com se fosse um espaço com paredes, tecto e chão, pensei em torná-la sólida, fixa, construí-la bem, de modo a ter a segurança do local. Ouvi então o sorriso das pequenas estrelas. "Cai!" disseram, "e voa, não tenhas medo de quebrar os ossos, nem de morrer. Não há nenhum chão onde possas aterrar. É tudo puro éter, sólido como a areia que preenche o deserto, sólido como a água no mar. Deixa-te ir e cai e então estarás livre."

Fluxo e mutabilidade

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Gerhard Richter Algo que mudou a maré, que subiu, subiu e afastou-se. Um nível sombrio, triste e cinzento. As rochas escondidas, a costa traiçoeira e íngreme acima do mar. Descanso para o virar da maré. Ondulo na areia. Não temo a vastidão aquática, conheço os perigos da costa. Deixo agora as cristas de espuma e o fluxo, sorrio sereno ao aparecer das profundezas.

O ensaio dos sonhadores

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Devem as estrelas mais brilhantes ascender de um mar agitado? Devem passar os anos em triste incerteza, deixando-nos na dúvida de quem são os golpes que conquistam, as vitórias são nossas ou do destino? O Tempo irá revelar todos os significados interiores, mas eles nunca saberão o seu significado. Nosso e desperdiçado com saudade, quebrado em agonia, a agonia de sonhos fantásticos; esforçam-se para manter a sua dimensão, e ensaiam para ser a coisa sonhada. Subitamente lhes falta a visão interior, a sua vida real cresce sombria e cinzenta e a hora segue hora, inerte.

Queixume III

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Apesar dos anos terem cuidado de ti, das tristezas alheias superiores; há pessoas bem mais fracas que tremem agora perante violentas explosões de tempo. Não sigas o errante nem o fraco; vai, esmaga o suspiro e quando o teu trabalho estiver terminado, irás encontra-te de rosto seco. Não te lamentes, o caminho que trilhas segue por vezes através da sombra; lembra-te, tu não és censurado pelo apontar de Deus algum. Este mundo não é um deserto.

Queixume II

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Bem sei que por vezes há motivos de lágrimas e necessidade de chuva, mas perderá a terra beleza por ela? Eu sei que as sombras andam frequentemente à deriva entre nós e a luz e também as nuvens muitas vezes escondem o sol, mas brilha menos por tal? Este mundo não é um deserto, e o homem não é um escravo de tempestades de incessante arrependimento. Não temos tempo para queixume; a vida não é um acontecimento solene, aqueles que fazem a vénia não são os mesmos que vivem.

Queixume

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Este mundo não é deserto, não é um véu de lágrimas; odeio este queixume sem fim sobre os tristes anos de vida – como se uma sabedoria infalível tivesse aqui cometido um erro grave. Este mundo não é um vale de sombras, escuridão e morte, onde flutuam suspiros em lágrimas em cada respiração que passa. Odeio gente egoísta, as línguas egoístas que coacham a censura de um qualquer deus.

A vida do homem

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A vida. O destino de cada homem, ao contrário do que dizem e pensam, a sua natureza não é de leis firmes e de decretos imutáveis; não há lições a aprender, não é tarde demais, não precisamos do vento para avançar. Não precisamos de implorar, não precisamos que nos sintam pena; cada década aumenta-nos a persistência, amadurecemos dificuldades. Eu não conheço regras por que me movo ou permaneço, eu não reconheço o desespero, eu não assisto em silêncio. A minha vida não é um resultado de algo solicitado.

A fortuna

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Apenas te peço uma coisa, apenas uma vez, que sejas a minha vida; que nunca eu acorde e encontre uma ilusão no lugar de tudo o que acredito, para sempres desaparecido, uma visão perdida na noite. Tenho a fortuna de poucos, num mundo cheio de despertares violentos, vazios, deprimidos e de castelos em ruínas. No entanto, ainda se agarram alguns humanos à beleza de todos os erros. Eu tenho a fortuna de poucos na tua mão que agarro, no teu corpo que abraço.

O indescritível

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Todas as noites contigo sobre a terra; todas as noites a radiante presença do sentir – o beijo, o entrelaçar. Com o branco furto da madrugada, o arrebatamento de um amanhecer; a forma adocicada, indescritível.

Sonambulismo

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Sonhei que dormia, e nesse sono sonhava, e desse duplo sonho interior acordei e caminhei num patio fechado. Alguém falou atrás de mim, e eu virei-me. Uma mulher focou olhos cor de avelã em mim. Eu fitei-a. 'Tal como tu parecias em sonho para sonhar, pelo golpe duplo de acordar no acordar, daqui podes ser resgatado. ‘ Quando entrar no meu último sono mortal, depois de todos os sonhos terem desaparecido, irei então acordar duplamente, conservar esse jardim na minha mente e regressar, erguendo-me da profunda angústia da morte. Sonambulo ou antes acordado?

Assim vivo

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É tranquila a minha vida. Assim como a superfície prateada de um lago, quando tudo permanece quieto e silencioso; ou como um rio, de livre amplitude. Assim vivo, numa combinação selvagem de cores raras, banhadas em luz imortal.

A minha vida II

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É enorme esta vida. Não maior é o som da trovoada na cúpula arqueada; não mais sublime a ira da tempestade deixando desolado o caminho por onde passa. É selvagem esta vida. Selvagem como o vento que atravessa os pinheiros e profunda como o rugir do oceano nas suas cavernas, ou na costa que as suas águas quebram.