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A mostrar mensagens de novembro, 2008

Amanhece

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Ao amanhecer, quando uma ave ensaia o despertar… inicia-se o momento da nostalgia de todo o pó que a morte abandonou. Hora dos nascidos, em que se forma a primeira costela de um novo ser humano. Amado, a nostalgia atravessa-me rugindo.

Viver III

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Quando estamos muito doentes, quando existe a possibilidade de não voltarmos a levantar-nos da mesa branca, é impossível não sentir a tristeza de partir antes do tempo; seguiremos com o último olhar para uma janela, esperando as últimas notícias. Quando estamos perante algo por que vale a pena lutar, nada como iniciar o ataque ao primeiro movimento. Pode cair-se de cara na terra e morrer, tudo isto temos que aceitar. Segue, vivendo com os de fora, com os homens, os animais, os conflitos e os ventos; estejas onde estiveres, vive como se nunca tivesses que morrer.

Viver II

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Hás-de tomar a sério o viver que aos quarenta anos, se for necessário, plantarás oliveiras sem pensar que algum dia serão para os teus filhos; deves fazê-lo, amigo, não porque não acredites na morte mas porque viver é a tua tarefa.

Viver I

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O viver admite brincar. Porquê viver com tanta seriedade, sem esperar nada fora e mais além do viver? Viver resume-se em apenas uma palavra: viver. Porquê levar tanto a sério o viver? Até ao ponto e de tal maneira que ficam os braços atados às costas, e as costas pegadas à parede. Porque hás-de morrer pelos homens que nunca viste, sem que nada te obrigue a fazê-lo?

Imagens

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Por detrás das folhas, sob o dourado onde começam a trabalhar insectos, mensageiros do esquecimento, é mais fácil sobreviver às novas obrigações. Há que desconfiar da serenidade com que estas folhas esperam a sua queda inevitável, a sua vocação de pó e nada. Elas podem permanecer ainda uns instantes para testemunhar a sua própria derrota perante o tempo. Há objectos que não viajam nunca. Permanecem imunes ao esquecimento. Ficam presos a uma eternidade feita de instantes paralelos. Esta condição singular coloca-os à margem da vida. Não os visita a dúvida nem o espanto. O sonho dos insectos é composto por metais desconhecidos que penetram no reino mais obscuro da geologia. Que ninguém erga a mão para alcançar as estrelas que nascem. O sonho dos insectos é composto por metais. Cuidado. Uma ave desce e, atrás dela, cai também a manhã. No fundo do mar cumprem-se lentas cerimónias presididas pela quietude das matérias que a terra renegou há milhares de anos ao esquecimento das profundezas. F

Elas diferentes

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Rapariga bonita, quem se deve culpar. Rapariga assustada, eles não sabem o teu nome. Rapariga triste, choras à noite. Rapariga distante, longe da vista. Rapariga psicótica, com cicatrizes nos pulsos. Rapariga de contos de fadas, que não existe. Rapariga silenciosa, sem um nome. Rapariga ignorada, cheia de vergonha. Rapariga falsa, com sorrisos de plástico. Rapariga estranha, a mil quilómetros. Rapariga sem emoções, não sente tanta dor. Rapariga sombria, que traz a chuva. Rapariga que chora, lágrimas que inundam. Rapariga psicótica, que se afoga no seu sangue. Rapariga odiada, que ninguém ama. Uma rapariga tão fraca, que já não tem pensamento. Rapariga zangada, não há cura. Rapariga feliz, já não o é. Rapariga escondida, esconde as suas cicatrizes. Rapariga aprisionada, vives por detrás das grades. Rapariga louca, que tanto sangra. Rapariga só, estás fora de alcance. Rapariga estúpida, de que ninguém gosta. Rapariga bonita, não desistas agora. Rapariga suicida, há alguma forma, alguma m

Estou a ficar sem tempo

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Estava a ficar sem tempo para enfrentar os seus medos e mentiras. Para todas as despedidas. Para lhe dizer como se sentia. Aquela paixão punha-o doente. “Estou a ficar sem tempo, não posso voltar a confiar. Estou a ficar sem tempo, saio agora a correr pela porta!”

Corre

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A correr, a correr, não há mais nada a fazer, depressa, depressa, estou tão quente mas não posso parar, mais depressa, estou a fugir do meu passado, fujo, tento deixar os medos para trás, paro e estou só. E agora?

Fecha a porta antes de entrar #2

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Para os habitantes desta cidade, apesar da sua forma mudar constantemente, todas as noites deixamos algumas batatas frias e uma garrafa de água no parapeito. A propósito, as lágrimas não são permitidas. Há uma porta fechada, uma que não pode ser aberta, lá dentro estão todas as tuas noites por dormir. Ninguém sabe quem tranca a porta. As pessoas lá dentro não têm água, não se podem tocar. Estalam como maçapão seco. São mudas, não pedem ajuda, excepto dentro de si onde o coração está coberto de crostas. Gostaria de abrir aquela porta, rodar a chave, mas não consigo, não consigo. Posso apenas sentar-me aqui, no meu lugar, à mesa.

Fecha a porta antes de entrar #1

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Por detrás da porta fechada... é tarde, alguém chega. Não o deixes entrar. Por detrás da porta trancada, não podes escapar, nem mesmo agora que cresceste. Trancaste tu mesmo a porta, para não te deixares ir. Por detrás da porta trancada, encostas-te ao canto para evitar o seu toque, ‘Porque tens que me magoar assim? Porque não podes parar? Porque não és apanhado?'

Questões sem fim

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Eles dizem “é melhor prevenir do que remediar”, digam-me então qual a razão da paixão? E que “todas as grandes mentes pensam da mesma forma”, então apenas um génio seria suficiente? Se o meu sucesso se baseia na riqueza, ser pobre significa que falhei? Se voar nos leva aos sítios mais rápido, preferias andar ou velejar? A corrida humana não tem consciência, significa isso que eu não tenho alma? Porque morrem as pessoas pela verdade, enquanto outros vivem em mentiras? Se a vida não tem segredo, como um livro já lido, gostarias tanto assim dela, e se as palavras não tivessem sido ditas? Como podem passar dez coisas boas sem que dês por isso, quando apenas uma má é mencionada? 'Persegue o que não pode ser apanhado'... porque não o que pode ser conseguido? Quando sabes o que está na cave escura, continuas a ter medo de lá entrar? Pode abraçar alguém mil vezes, mas apaixonar-te só com um único beijo? Quando não consegues explicar o que sentes, isso torna-te um estranho? O que prefer

Em peças

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Se um dia ele partir, irás apanhar os pedaços do chão? E quando a noite cair, e ninguém estiver acordado, fará algum ruído?

Besta #2

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Demónios pessoais! Isso era eu hoje, todo o dia. A lutar pela minha vida enquanto me tentava concentrar no trabalho. Depois, enquanto terminava uns textos sobre, hum, demónios pessoais, tive esta sensação estranha. Senti… Senti a minha própria força. Foi como isso, mas em vez dos meus músculos era o bater de coração. É um músculo? Não, um fogo. Não estou certo de ter causado grande dano nos meus demónios. Mas acho que eles ficaram aliviados ao espancar-me.

Besta

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Sua besta. Sua grande e feia besta. Caminho sobre as tuas costas disformes. Expiras e sou atirado ao ar como uma pena. Inspiras e sou sugado para o teu interior. Tens alguma ideia de quão frustrante isso é? Bem, talvez gostes de saber: eu não sou sempre deste tamanho. Por vezes sou bem maior. Surpreendido? B o a . Sim, estive em mim algumas vezes e isso expandiu-me. Quando estou completamente esticado cabe em mim um mundo inteiro. Fixe, não? Todas as pessoas são assim. Aposto que não sabias. Não sei bem o que fazer contigo, besta. Não sei se te deva matar. Ou amar-te (és parte de mim, apesar de tudo). Ou apenas diminuir-te. Estou certo que saberei. Não me subestimes, Besta. Ainda tenho uns truques na manga. E parece-me que não és a única coisa a crescer dentro de mim.

telefone azul em hotel de 5 estrelas

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Os meus olhos abriram-se perante um telefone azul na casa de banho do hotel de 5 estrelas. A quem vou telefonar? A um canalizador, proctologista, urologista, a um padre? Quem entre todos merece o primeiro telefonema? Escolhi o meu pai porque os telefones de casa de banho sempre o fascinaram. Liguei para lá. Atende a minha mãe. “Mãe, posso falar com o pai?” Ela engasga-se, e então eu lembro-me que o meu pai está morto há quase um ano. “Merda. Esqueci-me que ele está morto. Desculpa, como me pude esquecer?” “Tudo bem”, disse ela. “Fiz-lhe uma chávena de café instantâneo esta manhã, e deixei-a na mesa. Como o faço há, sei lá, vinte e sete anos. E não me dei conta, até esta tarde.” Riu-se para os anjos que aguardam as nossas pausas no mais comum dos dias.

a cadeira vazia

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Olho para a tua cadeira, olho para o vazio dentro de ti. Não estás. Já não me fazes rir. Como aconteceu? Nenhuma resposta irá surgir. Porque mudaste? Visito-te e tenho que ir; vejo o teu corpo, mas não és tu. E ninguém percebe isso, pensam que ainda estás vivo. Tento sorrir apesar das lágrimas que caem.