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A mostrar mensagens de abril, 2011

Variações sobre o sentir I

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“Deixa-me sentir, e desiste desses aborrecidos protestos de amante. E vamos ser felizes, enquanto podemos, ainda que amanhã seja chamado de hoje.” Amanhã podes ser descuidado, inerte: uma noite é suficiente para o sentir ser encontrado e partir logo a seguir. “Seja então agora, e não irei dizer que por ti morreria de diversas formas; e não irei pedir-te para declarares que irás sentir por mais tempo que a maior parte das mulheres.” Deixas então as palavras para quem as palavras, não os actos, comovem, e deixas o teu silêncio responder pelo que sentes.

Primeiro pensamento

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Akif Bhakan O meu primeiro pensamento é o do teu corpo completamente nu, prestes a tocar a minha pele esticada... Eu sei que a luxuria e o amor são duas mãos separadas, flutuando em movimento paralelo, ocasionalmente agarrando a outra.

A dois tempos

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A mulher que amava traiu a sua confiança, e ele usou as cicatrizes por uma vida. A mulher que amava pisava a pista de dança, enquanto cantavam o seu hino fúnebre, dobravam-se tristemente os sinos, o ano era passado para mulher que o amava.

Presente distante

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A mulher que amou, enquanto a sonhava, dançou até as estrelas escurecerem; mas apenas ela e o pulsar de um mundo distante, onde se encontra a mulher que o amou. A mulher que adorou apenas sorriu, quando ele derramou o seu sentir apaixonado. Enquanto outro, em outra parte, beijava um livro em tempos tocado por ela.

Transforma II

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Beijei-a ao primeiro amanhecer, no corpo sentia uma dor estranhamente adocicada, uma nova e selvagem forma de felicidade que ainda não conseguia compreender. E agora, ao agarrar os teus dedos esguios, mantendo-te escravizada a pedido de um corpo ansioso, sinto a mesma estranha sede, sempre insatisfeita – porque deveria eu desejar compreender?

Transforma I

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Deve ser esta a minha tarefa, sendo eu o meu próprio arquitecto, criar-me a partir dos átomos que giram à tua volta. Fiz-me com a inteligência de uma criança: uma coisa comum a partir de barro terreno. Mas com estes olhos consegui ver a dupla chama, e ao olhar senti a selvagem surpresa da transformação – o teu bater cardíaco em mim.

Alienação III

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Ele estava numa cama estranha, abraçou a mulher desconhecida, desejando apenas uma memória morta de tudo o que uma vez tinham desejado. Foi então que se apercebeu o quanto a amava, a mulher perdida; exactamente como eram, como a iriam amar até ao fim. Deita-se entre os seus braços, acordado e a amaldiçoar a noite indiferente, lenta por ele, pelo seu desejo. Entre braços acordado em tal solidão, e quando a beija os seus lábios choravam o seu nome.

Alienação II

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E com o amanhecer a visão regressou a um cérebro agitado e recorrente: pensar o seu corpo, quente e pálido, passar a noite entre braços; foi-lhe concedido por surpresa, com aquele olhar, os segredos da sua beleza, que poderia nunca ver: ele que diz amar, ele que encontra nela um meio-esquecido ponto de vista.

Alienação I

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Ontem à noite vi-a adornada para a chegada desses pés relutantes: o pequeno gorro que usa de bom grado, por causa dele, para ser mais justo. A palidez do seu rosto perfeito; o vestido escuro dobrado sobre a garganta. Ele chegou e levou-a; e assim ficaram perto e longe, ela nos seus braços desperta e ele apenas acordado, amaldicionado um cérebro que não conseguia dormir. A sua imagem na parede, a violência das mãos de amantes cansados demais para o toque (aquelas mãos).

Sede

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Bebe-me apenas com os teus olhos, e eu irei pedir-te com os meus; ou deixa-me um beijo no copo e eu não irei mais procurar vinho. Esta é a sede que emerge.

Remeniscência

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Ela usava um vestido novo cinzento e ali ficamos por causa da tempestade que caía, sentamo-nos. Parou a chuva e o vidro que antes tinha encenado as nossas personagens moveu-se, ela saiu pela porta: deveria tê-la beijado se a chuva tivesse durado um minuto mais.

Reivindicação

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Cao Fei Houve um momento em que as bandeiras voaram para dividir o caminho e levar-me de ti. Mas existe um mundo onde os caminhos não têm nome, em que somos um mesmo, esperei e reclamei-te nesse mundo em toda a parte escondido. Lá fui exigir o teu cabelo, os teus lábios, mãos, braços, as pontas dos dedos. Exigi os teus olhos, o teu constant olhar, o teu tudo, o teu em toda a parte. Sinto-te agora à distância. Conheço-te. Irei falar contigo sem palavras. Dançarei contigo sem ti. E mesmo sem os teus braços, mesmo sem os teus lábios, o abraço, o beijo, tu, lembra-te.

O suicida VI

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A lua, que por muito tempo tinha lutado, emergia agora entre pesadas nuvens e espreitava através das suas pregas despedaçadas, como esperança, sobre os arrependimentos do homem. Aquele homem melancólico quebrou a luz e com a sua mão gelada e uma força enlouquecida feriu a testa latejante. Lançou um olhar desolado à lua distante enquanto algo pareceu despertar em si, agora demasiado agonizante para ele o suportar: talvez o pensamento de outros dias, quando respirava segredos de um fogo seu na hora calma a meia noite. Quebrou novamente a sua memória errante e rebuscou momentos, que era agora uma loucura contemplar. Fosse o que fosse, feriu a testa e com o olhar fixo no céu agitado, lançou-se ao rio. As águas apanharam-no ao cair, ecoou o mergulho solitário e o grito de despedida.

O suicida V

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Eram breves os seus sonhos de felicidade antecipada: o seu peito mudou – apareceu alguém e levou-a em triunfo; desde essa hora, a razão e a paz fugiram para sempre do seu cérebro. Embrulhou-se no manto escuro da tempestade – algo semelhante ao ser desolado, o céu uivou sobre ele e em seu torno responderam as montanhas de gargantas rochosas; bocejaram as águas abaixo, apressando-se no seu negro canal. O velho carvalho enferrujado. Tal como ele.

O suicida IV

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Ele, desde cedo, era dado ao silêncio e ao exercício da melancolia; os olhos pensativos raramente ficavam pela superfície, e sentia tudo com a paixão do entusiasta: um raro sentir, imutável até que a morte o extinga. Tantas vezes percorreram à noite o monte solitário, quando a lua saia do seu quarto de nuvens e seguia viagem.

O suicida III

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Ele considerava-se um jovem imutável, ela era a beleza em si, toda luz e sorrisos mas inconstante e mesquinha. Conquistou-a e partilharam carinho, uma forma de amor que vem desde a sua infância: ela via-se como uma rapariga rebelde, nos dias em que escapava imune à depressão do tempo – a sua vida era um sonho inchado de prazer e romance televisivo. Mas logo se apagava a chama débil, regressavam os dias frios e escapava-se a falsa juventude, a sua realidade virtual era brilhante demais e oscilava com a descida de temperatura; ela estava apta a viver apenas um carnaval.

O suicida II

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Onde correu um rio na sua força de inverno, entre uma vastidão de pedras com o musgo posto pela idade. No alto, sob um carvalho envelhecido que parecia curvar-se em absoluta solidão, um ser de pé como parte da tempestade que uivava em torno dele num tom familiar. O seu rosto pálido como um busto monumental, na escuridão oca do seu olhar deliciado com o furacão, parecia orgulhoso pelo seu desespero; a loucura conduzia um qualquer demónio no seu cérebro entorpecido, quando um relampago saltou entre nuvens esfarrapadas. Gritou na negra solidão nocturna, ecoou um selvagem "adeus!" a alguém que ainda estava condenado a amar.

O suicida I

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A névoa sobre a montanha, e a lua caminha pelo céu perturbado, nublado e pálido; a tempestade e os destroços da escuridão e o passado descontrolado olham, por um momento, o mundo distante: nenhuma estrela é vista. Rebentam as ondas da tempestade sobre a frente nocturna, empurradas pelo vento – o rude motorista do céu.