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A mostrar mensagens de maio, 2010

Ficamos

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A minha boca está seca, preciso das suas palavras onde o nosso peito de aroma solar se encontra, um espelho onde os meus olhos castanhos se reflectem. Preciso tanto disso como de a ter em mim, de a ser.

Após um dia

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Ele conduz para casa por entre árvores negras com um poema sobre ela que o irá tornar famoso, a começar pelos seus dedos. Deseja que o volante fosse o portátil onde escreve. Precisa de chegar ao cabelo dela, de lhe tocar. Quer muito ler o poema; atordoado, a performance nocturna deixou-o pálido como uma folha vazia, não apagável; arrastou a si todas as cores, todos os verbos húmidos, as histórias contadas, e tornou-as nos seus próprios sonhos – o seu surreal -, até as suas folhas e ramos se tornaram em verdes braços de uma criança.

Tempus fugit II

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Vemos as nuvens de verão chegar e partir, e o verde sedento. Ela sorri, mas os seus lábios estão dormentes – e passam os dias. O que somos? Respiramos, sentimos, deixamos cedo demais as nossas pequenas órbitas e caímos: crianças de um destino cansado e todos somos estranhos sem-abrigo com desejos de tranquilidade – e passam os dias. Peço apenas uma experiência profunda para beber e, no agridoce cocktail dos anos passados, encontrar o amor derramado com todos as suas lágrimas e sorrisos – enquanto os dias passam.

Tempus fugit I

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Ele não irá dizer que a sua vida foi em vão, a tranquilidade esconde-lhe o desconsolo; mas sabe bem que, nesta terra cansada, em redor de cada ilha de felicidade há um mar de dor – e passam os dias. Observa as suas esperanças cintilando ao longe na noite, em tempos radiantes e iluminadas na sua juventude, que o orientaram através dos anos para um amanhecer real; mas deixa-as partir – e passam os dias.

A vida? (parte II)

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Se a morte deve terminar em conflito, respondi-lhe eu, essa vida miserável não pode ser vida. Pois quem poderia aguentar a escuridão sem um amanhecer? Essa tua vida é uma morte. Pedes aos santos, cujas faces artificialmente iluminadas te asseguram da sua grace interior; se ao menos eles podessem resolver as tuas questões e satisfazer os teus ansiosos desejos. Um brilho oleoso ilumina a tua fronte, enquanto te ajoelhas dizes: "'Esta vida para me encontrar com o Senhor.” Mas a palavra que ouves foi escrita pelos homens, é a verdade de uma igreja não de uma vida divina ou eterna; é a promessa por cumprir do triunfo da vida sobre a morte, feita a troco de pecados perdoados. Deve haver morte tal como existir o erro (não o pecado alimentado pela santa igreja), viver é a minha religião. Eu sei que esta mortal casa de barro se irá um dia dissolver e acabar por desaparecer. Digo eu, assim vivo, luto pelo que acredito, o que sinto por quem amo é a minha graça terrestre: conquisto assim

A vida?

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Perguntei a um homem de cabelo grisalho, de ar abatido e cicatrizado por marcas de luta: a vida? Ele suspirou, deixou cair a cabeça: "A busca do prazer, alguns poucos anos de alegrias e tristezas, uma corrida para alcançar luminosos amanhãs, uma chama trémula, um brilho transitório, uma flor condenada a uma rápida decadência – florescer e morrer. É o pouco espaço que almejamos entre o berço e a sepultura; então cansados, renunciamos a respiração e a vida é tragada pela morte." Percebi então que o homem de cabelo grisalho não estava a falar da mesma vida que eu conheço.

Amadurece

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Craig Kauffmann Comecei a escrever um livro sobre a vida. Escrever o livro tornou-se a minha vida. Comecei a escrever um livro sobre escrever um livro. Escrever sobre escrever um livro tornou-se a minha vida. Entretanto, amadurecia a fruta no nosso jardim.

Algumas flores de porte variado

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Quem estará livre do arrependimento? Tê-lo-á afogado com a alegria de uma bebida gaseificada? Até o poderá fazer, mas cedo a borra tóxica tocará no lábio trémulo. Tem amigos. No entanto, o ultimo sol que viu a sua felicidade, viu também a presa que o irá trespassar. Quem pode vangloriar-se de uma manhã cinzenta? Ao colher as flores, que não pense escapar ao seu espinho.

E tudo mais

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A vida? Ainda por nascer; cumprimentamos a luz com um sussurro, como se a manhã anunciasse uma tarde nebulosa; Chorar, dormir e chorar de novo entre sorrisos solares; e mais? E crescemos em ritmo acelerado, sorrimos adultos apesar das desgraças. Aumentados pela força do que se sente; orgulhosos ao olhar o outro; e mais? E então, finalmente, completos; amamos apaixonadamente, ardemos; reunimos fortuna e pão; e mais?

A praia

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Somos atirados ao mar e presos à sua costa, somos náufragos pelos ventos que sopram. Ondas de pesar atacam o nosso navio e varrem o convés, desmontam mastros. A linha da costa está escondida pelos destroços de planos extraviados, de pessoas perdidas. Tacteamos a escuridão, adiante uma luz, regressa uma doce esperança, o sentir guia-nos até à praia.

O compasso

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As palavras que guardamos com o bater do coração, nunca são lançadas ao vento. A história do sentir e contada ao homem em palavras incendiadas; fica por contar outra história, profunda demais para ser nomeada. Por detrás das palavras escritas, onde está a nossa força, lá em cima, onde o ar é éter, afiado gume, em baixo, na natureza profunda: o fluxo, o sempre fluir, o ritmo, o compasso, a vida.

Suspenção

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De toda a tua vida dá um momento! Toda a tua vida já desaparecida, tudo o que vem depois. Ignora, torna o presente perfeito. Condensa, arrebatado pela perfeição, pensamento e sentimento. Funde-te no momento que te dá finalmente ao outro, tu em torno dela, sobre ela. Apesar da certeza do tempo futuro, tempo que passa, este tic da tua vida é um momento em que a amas. Quanto tempo poderá manter-se suspenso? O momento eterno, apenas isso e nada mais, quando o extâse nos ultrapassa o núcleo, enquanto queimam as faces, se abrem os braços, fecham os olhos e encontram-se os lábios.

Nada é mais nosso

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Nunca é o mesmo crepúsculo púrpura; nunca é o mesmo dia quente de verão. A tua vida deve sabê-lo. Nunca mais as mesmas ilusões que chegam sozinhas à juventude; nunca por acaso belos ideais de amor e verdade. Nunca o mesmo momento transcendente para elevar com palavras amáveis ou actos generosos, ou o sorriso, o coração do mortal agitado pelo sentir. Nunca o mesmo inspirado empenho com o qual nos completamos; nunca a mesma grande viagem a que chamamos vida. Nunca o mesmo extâse de amar o humano: aproveito por tudo isto o presente contigo, com todos os seus (nossos) irrepetíveis momentos – nada é mais nosso.

Coisas em comum

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As coisas comuns da vida - o ar, o sol, a chuva; elas vão e vêm sem nos solicitar consentimento. Elas vão, e regressam uma outra vez. E o que guardamos entre mãos, o que não se pode comprar, ultrapassa-nos o corpo. É nosso o que se sente e o prazer de o sentir. As coisas especiais do viver, temos o enorme previlégio de as ter.

Tia amada mãe

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Desapareceu na madrugada de domingo uma mãe a quem a lei designou de tia. Mas a lei é isenta de amor; a lei não ama como ela amou os seus filhos, e a lei não retribui com o amor que estes lhe deram. Desapareceu assim uma tia sentida mãe, uma tia amada mãe.

From Her to Eternity

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Um fluxo desce ruidosamente para um mar escondido que dorme sem lua, sem estrelas, sem limites, de onde não vem voz, nem forma, nem qualquer som: ao fluxo chamo viver, ao mar - Eternidade.

Ao ficar

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Chegou de onde? Fugiu como? Invisível, como esquadrões de éter que seguem um sonho. Chegou suavemente, de corpo basculante, vazio de asas. Ao ficar, cresceram.