Após um dia



Ele conduz para casa por entre árvores negras com um poema sobre ela que o irá tornar famoso, a começar pelos seus dedos. Deseja que o volante fosse o portátil onde escreve. Precisa de chegar ao cabelo dela, de lhe tocar. Quer muito ler o poema; atordoado, a performance nocturna deixou-o pálido como uma folha vazia, não apagável; arrastou a si todas as cores, todos os verbos húmidos, as histórias contadas, e tornou-as nos seus próprios sonhos – o seu surreal -, até as suas folhas e ramos se tornaram em verdes braços de uma criança.

Comentários

Maria disse…
Todas as hastes livres nascem
do quadrado aberto
sobre o rio


Tu poderás captar o esplendor
chamar-lhe-ás suave sob um sono de árvores.


Caminharás entre as plantas. Sentirás a sua sede.
e o olhar abrir-se-á no escuro fresco.

[A. R. Rosa]

E eu contigo.
Tudo,
Unknown disse…
A vida, afinal, anda lá fora, antes da folha
ter passado a prensa;
a mais pequena árvore é verde eterna,comparada ao arbusto
que, mal tocada a haste, se desvai em fumo.
Por isso eu fico lendo as crónicas, as lendas,
o jornal que, bem ou mal, cruza as palavras com o tempo,
e contudo! quando o lábio se engana, solta
a mais aguda fífia do trombone,
e de repente o corpo sabe a gente, e então se diz: eis
a verdadeira e pura poesia! pois seria, talvez,
somente a tua mão, cobrindo a folha.

[A.F. Alexandre]

E tudo contigo.

Mensagens populares deste blogue

Os realizadores - parte I

Dois