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A mostrar mensagens de novembro, 2013

Lei de uma probabilidade

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Bernardo Martins, Dezembro 2012 Provavelmente eu, muito antes daquele dia balanceando a minha sombra numa ponte, a tenha abandonado num amanhecer qualquer. Provavelmente eu, muito depois daquele dia, esteja vivo com sinais de barba branca aparecendo na barba feita. E eu, muito depois daquele dia: se por acaso vivo apoio-me contra as paredes em cada esquina das praças da cidade. Nos arredores os pavimentos iluminados de uma noite perfeita... e os passos de gente nova.

Casa

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L. Gato, Évora (2013) Soube que tinha acontecido algo irreparável no momento em que um homem me abriu a porta desse quarto de hotel e a vi sentada ao fundo, olhando pela janela de um modo estranho. Quando fui não se passava nada de estranho, ou pelo menos nada fora do habitual, nada que anunciasse o que iria suceder durante a minha ausência. Esta vez, como todas, ela prognosticou que algo correria mal e eu, como sempre, passei ao lado do seu prognóstico; saí da cidade numa quarta-feira, deixei-a pintando de verde as paredes do apartamento e no domingo seguinte, quando regressei, encontrei-a num hotel, a norte da cidade, transformada num ser aterrado e aterrador. Não conseguir saber o que lhe aconteceu durante a minha ausência e se lhe pergunto manda-me à merda; a mulher perdeu-se dentro da sua própria cabeça, faz catorze dias que a procuro; é como se ela habitasse uma realidade paralela, bem perto mas intransponível, como se falasse uma língua estrangeira. A transtornada razão de

Quietude

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L.Gato, Évora (2013) A quietude é algo que muito estimo, e tão contrária à natureza de tanta gente. Fazem-me espécie as pessoas que não sabem estar, apreciar ou o que fazer com ela; um enorme defeito, esse de não saber estar quieto.

mãe

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sentas-te à direita no balcão, é um tipo de restaurante em que podes ver coisas acontecer; uma vez a minha mãe chorou num restaurante tailandês, quando ouviu o meu estranho toque de telemóvel pensou que chorava um pato na cozinha há uma floresta no japão em que muitas pessoas se suicidam; porque estão deprimidas, violadas, em dívida, sozinhas, ricas ou aborrecidas; talvez algumas pessoas o façam apenas porque sim. Talvez se todas as pessoas configurassem o seu telemóvel com um toque a imitar um pato, e ligassem todas uma para as outras em simultâneo, a minha mãe iria desatar a rir num restaurante tailandês