Que o homem é a mais nobre das criaturas, pode inferir-se de nenhuma outra ter contestado tal afirmação.
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L. Gato, Évora (2013)
Soube que tinha acontecido
algo irreparável no momento em que um homem me abriu a porta desse quarto de
hotel e a vi sentada ao fundo, olhando pela janela de um modo estranho. Quando
fui não se passava nada de estranho, ou pelo menos nada fora do habitual, nada
que anunciasse o que iria suceder durante a minha ausência. Esta vez, como
todas, ela prognosticou que algo correria mal e eu, como sempre, passei ao lado
do seu prognóstico; saí da cidade numa quarta-feira, deixei-a pintando de verde
as paredes do apartamento e no domingo seguinte, quando regressei, encontrei-a num
hotel, a norte da cidade, transformada num ser aterrado e aterrador. Não conseguir
saber o que lhe aconteceu durante a minha ausência e se lhe pergunto manda-me à
merda; a mulher perdeu-se dentro da sua própria cabeça, faz catorze dias que a procuro;
é como se ela habitasse uma realidade paralela, bem perto mas intransponível,
como se falasse uma língua estrangeira. A transtornada razão de quem quer
regressar a casa e não o consegue, no minuto seguinte nem sequer se lembra de
ter tido casa.
"A matéria da memória é indefinida e insegura e nela, como na matéria da vida (e a vida é provavelmente apenas memória), se confundem acontecimentos e emoções, imagens e conjecturas, cuja origem nem sempre nos é dado com clareza reconhecer e cuja finalidade a maior parte das vezes nos escapa. E, no entanto, é tudo o que temos, a memória."
Lisboa, 2015 (Fernando M.) Os comboios, como se parecem com a vida! Faltavam duas horas. Duas horas mais tarde, à chegada, saberíamos a sorte que nos esperava a todos. Duas horas.
Desde pequenos estavam marcados pelo amor. Por detrás da sua aparência quotidiana guardavam a ternura e o sol de meia-noite. As mães encontravam-nos a chorar por um pássaro morto. Estes seres viveram no mundo dos realizadores de sonhos, atacados ferozmente pelos portadores de profecias de catástrofes. Chamaram-lhes iludidos, românticos, pensadores de utopias. Os realizadores de sonhos faziam amor todas as noites. Desta forma recomeçou o mundo a sua vida.
F.J. Torgal Dois silêncios em separado que, reunidos, encontram a voz; dois olhares que juntos sorriem, agora perdidos como estrelas por detrás de árvores sombrias; duas mãos distantes em que toque se anseia; dois peitos de mútua chama, feitos o mesmo; dois, o mesmo mar.
Comentários
Manuel António Pina
Beijo-te e abraço-te,