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A mostrar mensagens de janeiro, 2011

O Homem-montra III

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E até lá, ele terá a lua a soprar através da janela e a virar página que escreve – a lua gelada, a sua musa; os arcos pálidos dos seus dedos rabiscam mais notas. Ele apenas espera – e vai tremendo – face à sua janela, na sua própria cama (mais uma vez).

O Homem-montra II

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Ela irá dizer-lhe, "Não é que tenha mentido." E ele tornar-se defensivo (o que pode ser ofensivo), a detalhar os seus argumentos, olhos penetrantes como chaves de fendas. E indefeso de novo, ri-se sobre si mesmo, claro que perdoa, perdoado por quem tem ofendido (é ela afinal), e ela é sobretudo o seu todo. Fica satisfeito com o facto de ela o querer de novo, algum dia, talvez em breve.

O Homem-montra I

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Jason Blanger - Figure nr.23 Andava nu em casa e deixou novamente a janela aberta, para ser arrefecida pela inutilidade desse gesto auto-indulgente, essa amarga conjectura dele próprio (na sua opinião, as pessoas conheciam-no bem demais), e iriam rir-se dele mais tarde. Para as pessoas, a sua indisponibilidade seria sempre justificada.

Origami

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A lua é uma rocha branca desencantada. Foi-me retirada por todos estes meses, por dedos espalhados sobre a minha pele como sonhos e línguas de veludo. Estou em movimento, não para levar esta personalidade. Deito-me ao seu lado e engulo a lua analiticamente enquanto ela dorme. Eu chego-me a ela, razoável como uma estrela; afundo-me como um horizonte solar, sem fundamento a não ser o que sinto, dobro-me como um cisne de origami.

À entrada

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Abbas Kiarostami - Sleepers (2001) A longa meia-noite já está passada e nós permanecemos, a chuva cai rápida, estamos agora à entrada, e a chuva a cair. Irá a vizinha vigilante ouvir, enquanto sussurramos, está ela por perto mantendo colado à porta o ouvido infecto? Mas temos tanto para dizer, enquanto nos demoramos ao escuro da porta, e ali ficamos até um novo dia. Não anda ninguém na avenida, ninguém testemunha o abraço, o beijo à entrada, o subir juntos.

A coisa rara

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Um dia escrevi o nome dela sobre a costa, mas chegaram as ondas e levaram-nos consigo: escrevi-o de novo com a outra mão, mas subiu a maré. Disse-me ela, 'ensaias em vão uma coisa mortal para a imortalizar, mas aprecio a decadência do acto, e que o meu próprio nome seja eliminado desta forma.' 'Nada disso, deixa as coisas insignificantes morrer na poeira, mas o nome dela vive em mim e assim será conhecido: com o que eu escrevo quero eternizar a sua raridade, mesmo o que é escrito no ar ou o nome que a água leva consigo, o que sentimos é um ser vivo e uma vida renovada.'

Permanente

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Man Ray Tenho visto o teu rosto em chamas, os teus braços esguios a enlouquecer, os teus lábios estremecem. Seguramente, tudo isto ultrapassa a satisfação de um homem. Ofereceste-me um previlégio de carácter eterno: a permanência no meu pensamento.

Os ex-amantes

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Encontram-se numa terra triste – Um sorriso e um toque, enquanto o sol pisca e desaparece a oeste com o último suspiro do dia levado pelo vento – É o máximo a que se podem atrever, e o melhor. Dizem que a paixão arrefeceu, que a chama está morta algures; "Bons amigos, uma vez mais, encontram-se com um aperto de mão e sonham partir. Eles são a terra onde se encontram.

A promessa II

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Fernand Fonssagrives Pelos seus olhos onde o sentir se encontra, pelos seus cabelos, pelo seu perfeito pescoço; pelo seu peito, escondido pela luz, pálido pela ausência do beijo que os seus lábios convidam; pelas horas deliciosamente desperdiçadas em tardes de verão; pelo pomar onde caminham no brilho de luas de colheita; pelos poetas, clássicos e comtenporâneos, que por piedade lhes emprestaram o discurso que as suas palavras nunca iriam alcançar. Por todos eles foi a promessa feita.

A Promessa

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"Não me esqueças" suspirava triste, e então despediu-se; considerando que ele se iria desanamorar de boa vontade. Quando é que a beleza cobra dívidas sobre o que se sente? Desde quando é que é preciso avisar, "Não te esqueças"?

Só isso e nada mais

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Tu em meu redor mais uma vez, tu debaixo de mim, acima de mim – eu – a certeza de que apesar do tempo futuro, tempo passado, este pedaço de tempo de vida é um momento em que me amas. Por quanto tempo se pode o tempo suspender? O momento eterno – só isso e nada mais – quando o sentir nos ultrapassa, enquanto queimam as faces, se abrem os braços e os olhos se fecham.

Apartado de si mesmo

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Thomas Prior Aparte de toda a tua vida dá apenas um momento! Toda a tua vida que já passou, toda a vem depois. Para que ignores, para que tornes o presente perfeito. Condensa, num arrebatamento de raiva, pelo investimento na perfeição, pensamento e sentimento e espírito e sentido misturados em apenas um momento que te dá por final.

Caçada

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Caçadores de bocas famintas devoram, dente na pele e pele na carne. As palmas das mãos suadas provocam estremecimento e respiração ofegante. Lábios ávidos procuram segredos profundos. A sua boca, as suas costas, o seu peito. O brilho sóbrio da madrugada descobre as marcas da luxúria; membros nus enlaçados de forma inusual.

Sol

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Carne viva, vermelho sangue. O teu fixar não-me-esqueças, olhos enlaçados que atravessam uma sala lotada, flutuando entre fumo pegajoso. Fugaz momento de seres reflectidos, embalsamados na escuridão encontram-se as bocas, os lábios vagueam sobrancelhas, o seu queixo, o canto da boca. Silenciados pela narcoléptica canção, as palavras derrentem-se em suor; redundantes, os beijos falam a sua língua.

Língua

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Ele pertence-lhe, como uma lingua à sua boca, e os lábios no seu crânio procuram-no. Ele veio nesta direcção e mudou para sempre a forma do éter nos seus quartos, abriu uma janela no tecto do céu. Segurou uma cascata solta na palma da mão. E enquanto ele dizia as palavras, para que ela soubesse afinal para não mais esquecer, pendurou as pedras espumantes em cada ponto do espaço. E então olhou para cima, silencioso, de sorriso a tremer, e viu o seu rosto quando ela se apercebeu que ele era, o que tinha feito. Ela pertence-lhe como uma boca pertence à sua língua.

O cardeal é um ponto

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Norte e sul e este e oeste, vagueava cansado, e não encontrei um sorriso onde pudesse repousar. Errante, não vi qualquer brilho de olhar que me orientasse.Vi o eclipse solar, mas nada ganhei de lábio algum. Eu ainda a vaguear e vaguear, obedecendo à noite, à espera de uma voz que me chamasse para casa.

Lanterna

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Porque a estrada era íngreme e por uma terra escura e solitária, colocaram-me uma lanterna nas mãos. Por quilómetros em quilómetros cansados da noite que se alongavam no meu caminho, a minha lanterna de luz serena, um dia inesgotável. Uma luz dourada, uma luz como vinho.

A linguagem do que se sente

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Um olhar furtivo de olhos baixos, um suspiro profundo; uma suave pressão da mão, bem entendidos no próprio terreno do sentir. A linguagem do que se sente é conhecida em toda a parte. Nunca poderá ser comprada. Ele procura-a. É uma linguagem sublime, os seus idiomas são conhecidos em todos os climas. Ilumina o rosto do homem.

Imagens

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Entre as tuas mãos, a minha vida moldada como barro húmido até à forma perfeita, amanhã celebrada em climas orientais. A tua vida é o meu ritmo: deixa que cada sopro tenha a arte do que se sente. Tal como em tempos para lá dos mares, eram feitos com incrível habilidade. Amores, demónios, anjos caídos; assim o possa esculpir a tua mão, que faça o que quiser; que preencha a divisão luminosa, a sublime divisão onde entras. E em cada recanto nos encontras.