Os realizadores - parte I
Desde pequenos estavam marcados pelo amor. Por detrás da sua aparência quotidiana guardavam a ternura e o sol de meia-noite. As mães encontravam-nos a chorar por um pássaro morto. Estes seres viveram no mundo dos realizadores de sonhos, atacados ferozmente pelos portadores de profecias de catástrofes. Chamaram-lhes iludidos, românticos, pensadores de utopias. Os realizadores de sonhos faziam amor todas as noites. Desta forma recomeçou o mundo a sua vida.
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Confiança, orgulho, ternura, contentamento, um quebranto de cansaço e também um desejo reacendido só de pensar nela e não de pensar no que fizera com ela: tudo isso eu sentia, me dava um andar leve, quase dançado, e era inteiramente novo. Eu já sentira, noutras ocasiões, um pouco disto ou daquilo; não sentira, porém, tudo e tão intensamente... como se fosse parte de tamanha felicidade, que tudo mergulhasse e se diluísse em mim, na minha carne, no meu sangue, no fundo do meu desejo...
Era como se, na vida, nós, de vez em quando, após uma experiência nova, descobríssemos que ainda crescíamos, que ainda não tínhamos deixado de ser crianças. E que havia, dentro de nós, possibilidades infinitas de plenitude.
Não tinha sido afinal uma experiência nova. Tinha sido, pelo contrário, a mesma experiência de sempre, como nova. E nisso estava toda a diferença. Nisso estava que eu me sentisse tão plenamente um Homem.
Deitados nus, na cama, lado a lado, ela, com a cabeça pousada no meu peito,... com os dedos no cabelo dela, lhe afogava as palavras contra a minha pele, em beijos que subiam até à boca...
[Jorge de Sena in, Sinais de Fogo]
Plena e tudo, Contigo.
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho,
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura do linho
[Florbela Espanca]
Em ti, tudo.