Ad eternum
Que surpresa o teu corpo! Ser tudo isto teu, poder ter-te sem sequer o ter sonhado, sem que nunca um ligeiro esperar o tivesse prometido. Os teus braços fecham-se à minha volta. O teu peito, o que suspira, estremece de coisas que ignorávamos, de mundos que o movem... O peito do teu corpo, firme e sensível que um beijo o atravessa.
Tu não acabas nunca, tu não te apagas nunca. Aqui tens a chama, a que tudo alcança, para queimar o céu erguendo-lhe a terra.
Comentários
qualquer experiência, os teus olhos...
no teu gesto há coisas que me prendem,
ou que eu não posso tocar de tão próximas que estão
tu sempre me abres pétala a pétala...
(tocando hábil, misteriosamente)
nada do que existe para ser sentido neste mundo iguala
o poder da tua extrema fragilidade...
(eu não sei o que há em ti que fecha
e abre; apenas alguma coisa em mim entende
a voz dos teus olhos...)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem tão finas mãos
[e.e.cummings]
Tu não acabas nem te apagas, nunca.
Em mim,
a grande fonte
em que todos pensaram. Quando no campo
se procurava o trevo, ou em silêncio
se esperava a noite,
ou se ouvia algures na paz da terra
o urdir do tempo ---
cada um pensava na fonte. Era um manar
secreto e pacífico.
Uma coisa milagrosa que acontecia
ocultamente.
[H. Helder]
És a fonte.