Chuva de Inverno



Há uma voz triste na chuva de Inverno; que acompanha o ritmo da queda lenta. O vento canta ao respirar, parecendo um mensageiro que sussurra à medida que as copas das árvores se inclinam. O que dá tal tristeza à chuva? A chuva de inverno; soluços de um coração em dor. Saberá que as suas gotas morrem frias no chão? Sabe que a beleza acaba por desparecer? Então diz-me, porque é esta chuva de Inverno uma chuva triste? Será por suspirar o partir do Verão e pelas flores mortas?

Claro que a chuva de verão tinha um tom alegre, um tom de riso; as flores olhavam para cima quando caía e as gotas que caiam nos olhos brilhavam como lágrimas, como lágrimas de alegria.

Comentários

Maria disse…
Às vezes chamam-lhe paixão. Que pode
acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
Aproximas a mão, os dedos
desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo. Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo,
apenas o começo. Antes
do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações.

[Eugénio de Andrade]

Contigo.
Assim,
Unknown disse…
Bem quisera escrevê-la
com palavras sabidas,
as mesmas, triviais,
embora estremecessem
a um toque de paixão.
Perfurando os obscuros
canais de argila e sombra,
ela iria contando
que vou bem, e amo sempre
e amo cada vez mais
a essa minha maneira
torcida e reticente,
e espero uma resposta
mas que não tarde: e peço
um objeto minúsculo
só para dar prazer
e quem pode ofertá-lo;
diria ela do tempo
que faz do nosso lado;
as chuvas já secaram,
as crianças estudam,
uma última invenção
(inda não é perfeita)
faz ler nos corações,
mas todos esperamos
rever-nos bem depressa.

[C.D. de Andrade]

E amo-te sempre,

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