A sua recusa
Se é amor, a respiração cansada de pintar inundações até à costa, o olhar descaído ainda a ler sobre a terra os tristes memoriais de amores deseperados; se é amor, lutar contra nós mesmos, deitar e chorar, erguer o pesar, a pedra que nunca descansa, ainda a reclamar arrependimentos apesar de nenhum alívio; se é amor, vestir-me de pensamentos negros, assombrar caminhos inexplorados para chorar longe; o prazer do horror, música de notas trágicas, lágrimas nos olhos e arrependimento no peito.
Viver uma morte viva, então para quê respirar? Se isto é amor? Não, é a sua recusa.
Comentários
Uma palavra. Recupero-a agora... Amo-te. Na intimidade exclusiva e ciumenta do nosso olhar mútuo e encantado. Fecha-nos o lençol na claridade difusa do amanhecer, estás perto de mim no intocável da tua doçura.
Uma palavra. A primeira que em toda a minha vida me esgotou o ser. A que foi tão completa e absorvente, que tudo o mais foi um excesso na criação. Deus esgotou em mim, na minha boca, todo o prodígio do seu poder. Ao princípio era a palavra. Eu a soube. E nada mais houve depois dela."
Vergílio Ferreira in, Para Sempre
Contigo.
Amo-te,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
[Pablo Neruda]
E nunca a palavra, porque por ela vivo.
Amo-te,