A carta II


Henri Cartier-Bresson

Senti que tinha invadido a privacidade do casal, um voyeur de um evento ocorrido há quarenta anos atrás. Despertou-me a curiousidade, continuei a ler.

"Senti tanto a tua falta depois do nosso ultimo encontro – é sempre tudo breve demais quando estou contigo. Ensinaste-me o meu corpo, permitiste desencadear a paixão, acendes-me para lá da fértil imaginaçâo."

Comentários

Maria disse…
«Já nada aqui em casa respira livremente sem ti; estás em todas as coisas, que mansamente ocupaste ou deslocaste... Estou como abstracto, como nem sei que dizer-te. E queria dizer-te sempre muito, o tudo que representas para mim, o tesouro inapreciável que encontrei e tu para mim te tens tornado. É uma coisa que tenho de dizer-te muitas vezes. Viver-se lado a lado calmamente, quando puder ser calmamente. Ainda bem que há dentro de nós, tanto que sabemos ser tudo isso, e que vai havendo cada vez mais.»

Jorge e Mécia de Sena in, Isto Tudo Que Nos Rodeia - cartas de amor

Assim mesmo.
Tudo,
Unknown disse…
Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.

[Nuno Júdice]

O amor, contigo.

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