O homem-vazio



Nenhuma luz tardia acendeu o céu, nenhuma segunda manhã brilhou; toda a sua vida foi oferecida. Mas quando os dias de sonho pereceram, e até o desespero era inútil destruir; então aprendeu como deveria ser estimada a existência, fortalecida e alimentada.

Avaliou as lágrimas de paixões inúteis; foi-lhe negado o desejo ardente de acelerar a descida. E, mesmo então, não se atreveu a deixá-lo definhar, não se atreveu a entrar na dor da memória; depois da angústia sorvida, como poderia ele procurar de novo o mundo vazio?

Comentários

Maria disse…
vivemos convivemos resistimos
cruzámo-nos nas ruas sob as árvores
fizemos porventura algum ruído
traçámos pelo ar tímidos gestos
e no entanto por que palavras dizer
que nosso era um coração solitário silencioso
silencioso profundamente silencioso
e afinal o nosso olhar olhava
como os olhos que olham nas florestas
No centro da cidade tumultuosa
no ângulo visível das múltiplas arestas
a flor da solidão crescia dia a dia mais viçosa
Nós tínhamos um nome para isto
mas o tempo dos homens impiedoso
matou-nos quem morria até aqui
E neste coração ambicioso
sozinho como um homem morre cristo

Que nome dar agora ao vazio...

Ruy Belo

Contigo, tudo.
Beijo-te,
Unknown disse…
A raiz do linho
foi meu alimento,
foi o meu tormento.

Mas então cantava.

[Eugénio de Andrade]

Tu és a minha raiz.
Beijo-te,

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