O suicida VI
A lua, que por muito tempo tinha lutado, emergia agora entre pesadas nuvens e espreitava através das suas pregas despedaçadas, como esperança, sobre os arrependimentos do homem.
Aquele homem melancólico quebrou a luz e com a sua mão gelada e uma força enlouquecida feriu a testa latejante. Lançou um olhar desolado à lua distante enquanto algo pareceu despertar em si, agora demasiado agonizante para ele o suportar: talvez o pensamento de outros dias, quando respirava segredos de um fogo seu na hora calma a meia noite.
Quebrou novamente a sua memória errante e rebuscou momentos, que era agora uma loucura contemplar. Fosse o que fosse, feriu a testa e com o olhar fixo no céu agitado, lançou-se ao rio.
As águas apanharam-no ao cair, ecoou o mergulho solitário e o grito de despedida.
Comentários
Jorge Luís Borges
Beijo-te,
aquele que por amor tem de morrer
e até de morrer jovem amiúde pois os deuses amam
aquele que perece em plena juventude
e assim se fixa petrifica e permanece
[Ruy Belo]
Beijo-te,