Em consciente natureza
Quem lhes vai contar do arrebatamento que acorda alguns homens? Que lhes irá explicar pacientemente, eles a prestar atenção, e responder de novo?
Renova-se o olhar líquido do céu, enquanto o homem passa. Entre o seu arrebatamento nenhum impulso será apressado. Nunca é uma língua comum, nunca uma palavra comum. Com a destilação pura do sentir no teu copo, onde o derramas?
Apenas um momento, em todo o tempo embriagado de mudança, para nos retirar o carácter de estranho. É esta a dor e este o prazer – o agridoce que o homem drena: a consciente natureza em que permanece.
Comentários
Se há justiça, ei-la aqui.
Morrer apenas o estritamente necessário, sem ultrapassar a medida.
Renascer o tanto preciso a partir do resto que se preservou.
Nós também sabemos nos dividir, é verdade.
Mas apenas em corpo e sussurros partidos.
Em corpo e poesia.
Aqui a garganta, do outro lado, o riso,
leve, logo abafado.
Aqui o coração pesado, ali o Não Morrer Demais,
três pequenas palavras que são as três plumas de um vôo.
O abismo não nos divide.
O abismo nos cerca.
WISLAWA SZYMBORSKA
Assim, contigo.
Beijo-te,
comprometida com o medo que no fundo fede e a que,digamos,toda
ela adere de uma forma resoluta,dir-se-ia que se
engancha,se pendura,o branco da memória a alastrar pelo
corpo,um branco tão branco como o das noites em branco e
sobre o qual a idade,exorbitada,hiante,se
insinua,pensos,ligaduras,impregnados de memória,uma memória onde fulgura a lava
dos
sentidos que entram em actividade e lhe disputam os dias
idos,assim ergue a balança,onde sustém o abismo."
[L.M.Nava]
Beijo-te,