Sobre a apatia #1
O sol derreteu-se nos
limites da cidade, tingindo o mundo com um cintilante e pálido azul antes de o
lançar na escuridão. É onde vives, e em tempos era o lugar onde dormias, sonhando
com o que vai ser e coisas que nunca foram. Em tempos havia luz na escurecida
paisagem ainda desconhecida, agora encontram-se apenas as entranhas de uma
mente cansada; observas o horizonte com a suave apatia que abraças como o teu único
refúgio.
A tua casa, o teu lar de
repouso, onde o conforto se senta ao teu lado; o mundo dos outros há muito foi
esquecido. O teu mundo é de uma beleza absoluta. Mas há morte aí. Nunca
descanso.
Comentários
Uma fotocopiadora tira fotocópias de um documento neutro e a seguir de uma sentença de morte, com a mesma maquinal indiferença – à mesma velocidade e qualidade de impressão. Nunca pára o seu movimento por questões morais, só por avaria. A avaria, aliás, é muitas vezes a origem de uma tragédia, mas cada vez mais, também uma das últimas vias de salvação. (A cada dia, a cada ano, a frase – Felizmente, avariou – ou a estranha e herética frase – Graças a Deus, avariou – se tornarão menos absurdas.)" Gonçalo M Tavares, in Sobre os Tempos, 2013
Beijo-te,
Nós não somos assim.
Beijo-te,