Contra-campo
A possibilidade de mudança tão distante, a raiva tão perto, a lutar para ser liberto. As vozes tão altas, deixam-me os sentidos a esgravatar por um silêncio solitário; ainda mais só do que as vozes altas. Gritos de ódio dentro de um enorme círculo, aprisionado por arame farpado.
A liberdade é quase impossível. Está por detrás da cela, da vedação electrificada e das vozes. Uma liberdade deserta, um campo que se move, ainda mais longe, provocando-me a coragem, tirando-me o medo que se aloja aqui. Não vejo porque o tenho que remover, apenas para o substituir por outro diferente. E no entanto, o campo é tão tentador. Seria louco que ficasse aqui.
Preciso de calma, preciso desses olhos que penetram este muro de impossibilidades.
Tudo aquilo que eu não sou, tudo aquilo que nunca vi, empurro-me firmemente contra a restrição farpada; o sangue flui destas feridas abertas, morrer para ser libertado. A dor não é nada, penso para mim mesmo, enquanto vejo o meu sangue espalhar-se no chão. O campo – tudo o que preciso.
Comentários
Mas não defendo que a liberdade seja a satisfação total de todos os meus desejos, sem olhar a meios nem a fins, sem ter atenção a terceiros.
ser livre implica poder desejar, amar, partilhar,... enfim, tudo coisas que nunca me lembraria de fazer sozinho.
é claro que existem muitos desejos que implicam a existência de pelo menos mais um ser.
o ser livre implica tanta coisa!!!
sim, a liberdade implica inumeras coisas. quanto aos humanos serem os "verdadeiros seres do egoísmo", isso é tão verdade como serem os seres que amam, odeiam, comem, respiram, ... os seres humanos podem ser o que bem entenderem. só não me parece correcto aplicar desta forma um único rótulo; as generalizações são sempre perigosas e com grandes margens de erro.