Despertar
Distraído do mundo, longe como um voo de pássaro, existo onde começa o silêncio, onde avenidas de árvores altas e de sombra longas nos levam, onde a noite acorda, face a si mesma. E tudo é pouco, e, como tu, brilha um mundo onde a beleza suspende o tempo. Ali estás tu, em silêncio. Ergues o olhar, queres, queremos, sentimos, somos noite clara. Dá-me esse teu silêncio e, na nossa infinita noite, vamos no vento, despertamos.
Comentários
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
[António Ramos Rosa]
Numa rua redonda...
Tudo,
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia
[Al Berto]
Sim, a rua dos abraços...
Tudo,