Que o homem é a mais nobre das criaturas, pode inferir-se de nenhuma outra ter contestado tal afirmação.
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Expostos à luz infinita, pastores do vento. Os montes sustentam-lhes a visão, entre um vazio e outro mais brilhante, música e silêncio. Inquietas levantam-se cabeças de ovelha, e depois continuam.
Toquei, então, o corpo da música ouvida com a ponta dos dedos.
Juntos, à sombra... os nossos corpos estendidos.
Por fim, abriste os olhos. Vias-te vista por meus olhos,
Dentro de mim subia uma maré...
No teu olhar me enterrei.
Fluem pelas planícies da noite os nossos corpos: são tempo que finda, presença num abraço dissipada; porém, são infinitos, e, ao tocá-los, banhamo-nos num rio de pulsações, voltamos ao perpétuo recomeço.
Quero escrever-te até encontrar onde segregas tanto sentimento. Pensas em mim, teu meio-riso secreto atravessa mar e montanha, me sobressalta em arrepios, o amor sobre o natural. O corpo é leve como a alma, os minerais voam como borboletas. Tudo deste lugar entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aquele que diga a primeira palavra deixará cair o primeiro vaso, aquele que golpeie o seu assombro com violência verá aparecer o fogo nos seus cabelos, aquele que ria em voz alta será o primeiro a guardar silêncio, aquele que desperte antes de tempo surpreenderá o seu corpo entre as árvores; e o mar, como algo interrompido, volta a ouvir-se ao longe e na sua respiração escutamos outra vez o ruído daquela porta que bate empurrada pelo vento.
A árvore em frente à sua casa cheirava-lhe diferente a cada manhã. Por vezes um aroma como os cabelos da sua mãe. Outras vezes levava o cheiro das flores emprestado; e outras ainda cheirava como de regresso de uma longa caminhada. A árvore em frente à sua casa tinha diferentes cheiros, como as pessoas crescidas.
Comentários
Cabias na cova da minha mão.
Toquei, então, o corpo da música
ouvida com a ponta dos dedos.
Juntos,
à sombra...
os nossos corpos estendidos.
Por fim, abriste os olhos.
Vias-te vista por meus olhos,
Dentro de mim subia uma maré...
No teu olhar me enterrei.
Fluem pelas planícies da noite
os nossos corpos: são tempo que finda,
presença num abraço dissipada;
porém, são infinitos, e, ao tocá-los,
banhamo-nos num rio de pulsações,
voltamos ao perpétuo recomeço.
O.Paz in, Regresso
Tudo,
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.
[Adélia Prado]
Tudo,