Ali, ao ar
O autocarro roda aturdido por uma estrada que é um sol, incessante, feroz. O céu nos seus rebordos é branco, vaporoso. Não sopra nada de ar. Desfalece. E então, sem que ela o tenha pedido, o condutor anuncia Prazeres. Maria endireita-se no banco. A névoa solar é densa. O suor empapa as costas e o peito. O autocarro começa a diminuir a velocidade. E ali, à direita, Maria vê surgir entre um gato com a língua ao ar. Não precisa de ver mais. Ali estava ele.
Comentários
inacabados,
longos de cauda, tristes
de cabeça.
pouco a pouco foram-se
formando,
tornando-se paisagem,
adquirindo sinais, graça, voo.
O gato,
só o gato
apareceu completo e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente gostaria de ter asas,
o cão é um leão confuso,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser somente gato
e todo o gato é gato
Não há unidade
como ele,
é uma coisa única
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
é firme e subtil como
a linha da proa de uma nave.
[P.Neruda]
Gosto...
Um Gato é um poema.
[J.Burden]
Eu sempre te disse isto, sempre. E muito antes de ler a confirmação, comprovada cientificamente, pela poesia.
Tudo,
[Mark Twain]
Sim, somos assim. Percebi desde o primeiro momento que fazias parte da ordem dos felinos.
Tudo,