Percepção



Se ver ou ouvir é deixar de ser para conhecer, seria absurdo dizer que vejo com os meus olhos ou que ouço com os meus ouvidos, já que os meus olhos, os meus ouvidos, são também seres do mundo; são instrumentos de excitação corpórea, não da percepção em si. Os meus olhos vêem, a minha mão toca; mas estas expressões ingénuas não traduzem a verdadeira experiência.

A sensibilidade devolve-me aquilo de que a alimento. Ao olhar o azul do céu, não sou um ser cósmico, não o possuo em pensamento, nem elaboro uma ideia de azul que me revela o seu segredo; abandono-me a ele, entro no mistério, torno-me céu eu também nesse azul ilimitado.

Comentários

Maria disse…
Um rumor de jardim, luzes sobre as águas, num ramo de espaço em firme esplendor, calor de flancos brancos... Estou fixo e livre neste centro com uma intensidade monótona, habitado pelo vento... Contente de Ser Teu e de Ser Meu, na expressão plana do desenho e na expressão redonda do volume, alto em densidade e transparente, animal de fundo e de ar, no equilíbrio fluído de um movimento sólido, glória claríssima que não explode, que não arde, imensa, imensa, mas à medida do corpo ardente, límpido, unificado. A integridade canta, a voluptuosidade canta em pássaro em ar em palavra em lábio em silêncio em corpo. Estou com a luz, na harmonia segura, nesta água viva do universo, alegre, alegre de Ser a placidez Imensa do azul, quase como um pássaro humilde, delicado, universal.

A.R.Rosa in, Na Plenitude...

És 'à medida do corpo ardente, límpido, unificado.'

Tudo,
Unknown disse…
Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

[Eugénio de Andrade]

À medida um do outro, encaixamos na perfeição.
Contigo,

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