A caminhar
Caminho passo a passo até ao destino do sentir e, ao caminhar, cuido de mostrar a emoção exposta na montra do meu peito. A minha pele, o meu rosto, a minha voz, o meu sexo, os meus actos na exacta medida da palavra murmurada e do silêncio que nos descrevem.
Um acto intemporal em que observo o brilho opalescente da luz que nos entra em casa sobre a tua face.
Comentários
desse pedaço trémulo de vida no ângulo
que o teu corpo formou com a luz; e segui o declinar
das pálpebras que o amor me oferecia, sabendo
que a usura do silêncio corresponde ao instante
em que os olhos se prendem
...
o movimento do teu corpo
a caminho da janela, para a abrir,
deixando entrar, com o sol, a sombra
das árvores para dentro de casa.
[N.Júdice]
Esta manhã...
Contigo,
como a rosa, para que flutuasse ao longo de um rio
de versos. O seu corpo, nu como o dessa mulher
que amei num sonho obscuro, bebeu a seiva
dos lagos, os veios subterrâneos das humidades
ancestrais, e abriu-se como o ventre da
própria flor. Levou atrás de si os meus olhos,
num barco tão fundo como a sua própria
morte.
Abracei esse poema. Estendi-o na areia
das margens, tapando a sua nudez com os ramos
de arbustos fluviais. Arranquei os botões
que nasciam dos seus seios, bebendo a sua cor
verde como os charcos coalhados do outono. Pedi-lhe
que me falasse, como se ele só ainda soubesse
as últimas palavras do amor.
[N.Júdice]
Este sempre...
Contigo,