Os vivos



Hoje venho falar-te, porque tu nasceste comigo e crescemos juntos. Nesta noite em que a minha história acaba, em que os séculos sonham sob as plantas dos meus pés descalços, sob a terra onde crescem árvores. A ti, nesta hora, porque a tua voz me chama e no profundo das minhas entranhas sinto remover-se outra água. Apenas tu, mulher e mar, gemendo a solidão tremenda.

Quieta e muda, a terra, a fúria da selva. Sempre nos conhecemos. Sempre soubemos. Igual o nosso sangue: transparente e único; vermelho, múltiplo.

Comentários

Maria disse…
O VERMELHO POR DENTRO

Estão envolvidos em corpos negros vermelhos por
dentro. Estão num barco sobre o mar e o mar é
negro. É de noite. O céu está negro e sobre a
água negra tudo é vermelho por dentro.

E nos corpos a água negra era vermelha por dentro
e eles estavam envolvidos
e...

[Ana Hatherly]

E tudo, ainda mais.
Contigo,
Unknown disse…
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

[Herberto Helder].

Contigo, a subir os degraus da terra.

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