Que o homem é a mais nobre das criaturas, pode inferir-se de nenhuma outra ter contestado tal afirmação.
De amor II
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Vivemos neste quarto, na nossa cama, na rua onde o meu braço te leva, no cinema e nos parques, no metro, nos lugares onde o meu ombro encosta a tua cabeça e a minha mão a tua mão e todo eu te sei como eu mesmo.
Mais do que um sonho: comoção! Sinto-me tonto, enternecido, quando, de noite, as minhas mãos são o teu único vestido.
E recompões com essa veste, que eu, sem saber, tinha tecido, todo o pudor que desfizeste como uma teia sem sentido; todo o pudor que desfizeste a meu pedido.
Mas nesse manto que desfias, e que depois voltas a pôr, eu reconheço os melhores dias do nosso amor.
Aquele que diga a primeira palavra deixará cair o primeiro vaso, aquele que golpeie o seu assombro com violência verá aparecer o fogo nos seus cabelos, aquele que ria em voz alta será o primeiro a guardar silêncio, aquele que desperte antes de tempo surpreenderá o seu corpo entre as árvores; e o mar, como algo interrompido, volta a ouvir-se ao longe e na sua respiração escutamos outra vez o ruído daquela porta que bate empurrada pelo vento.
Chega a hora maravilhosa, quando a natureza desperta do sonho e um novo mundo quebra a face terrestre. As estrelas empalidecem no céu sombrio e sobre as montanhas rastejam as névoas de um mundo em vigília. Pássaros inquietos nas copas das árvores estremecem as suas asas. O amanhecer chega rápido. Dispersam-se agora as névoas da face montanhosa e morrem em azul celeste; passa a madrugada, apresenta-se aqui o dia.
Comentários
Silêncios sedutores, deixava-a passar os seus dedos pelo ombro; fechava os olhos, sorria de prazer.
Abraçados após doces sussurros, emergiam do sonho para aproximar os lábios. E continuava o sonho conjunto.
- ...rodamos enlaçados;
e aquele quarto fragmenta-se em luz e sombra e dissolve-se.
[F.M.]
Sou em ti.
Tudo,
Sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.
E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.
Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.
[David Mourão-Ferreira]
Sou em ti.
Todo,