Que o homem é a mais nobre das criaturas, pode inferir-se de nenhuma outra ter contestado tal afirmação.
Meio-dia
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Sobre o granito retorcido, parado, intenso e infinito no seu amplo silêncio, o meio-dia. Árvores que, sem o movimento dos ventos, se elevam ao sol que as espreita.
A montanha desloca-se sobre o coração que se alumia: a língua alumia-se
A idade que escrevo escreve-se num braço fincado em ti, uma veia dentro da tua árvore.
As mãos carregam a força desde a raiz dos braços a força manobra os dedos ao escrever da idade, uma labareda fechada, a límpida ferida que me atravessa desde essa tua leveza sombria como uma dança até ao poder com que te toco. ... E eu escrevo-te
Toda
A luz salta às golfadas. A terra é alta.
E como estrelas duplas consanguíneas, luzimos de um para o outro.
[Herberto Helder]
Todas as tardes, um cardume de tardes, contigo. Tudo,
Não posso adiar o amor para outro século não posso ainda que o grito sufoque na garganta ainda que o ódio estale e crepite e arda sob as montanhas cinzentas e montanhas cinzentas
Não posso adiar este braço que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar ainda que a noite pese séculos sobre as costas e a aurora indecisa demore não posso adiar para outro século a minha vida nem o meu amor nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.
[António Ramos Rosa]
Não pude. Todos os dias, noites, lugares, alturas, contigo.
Aquele que diga a primeira palavra deixará cair o primeiro vaso, aquele que golpeie o seu assombro com violência verá aparecer o fogo nos seus cabelos, aquele que ria em voz alta será o primeiro a guardar silêncio, aquele que desperte antes de tempo surpreenderá o seu corpo entre as árvores; e o mar, como algo interrompido, volta a ouvir-se ao longe e na sua respiração escutamos outra vez o ruído daquela porta que bate empurrada pelo vento.
Chega a hora maravilhosa, quando a natureza desperta do sonho e um novo mundo quebra a face terrestre. As estrelas empalidecem no céu sombrio e sobre as montanhas rastejam as névoas de um mundo em vigília. Pássaros inquietos nas copas das árvores estremecem as suas asas. O amanhecer chega rápido. Dispersam-se agora as névoas da face montanhosa e morrem em azul celeste; passa a madrugada, apresenta-se aqui o dia.
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alumia-se
A idade que escrevo
escreve-se
num braço fincado em ti, uma veia
dentro
da tua árvore.
As mãos carregam a força
desde a raiz
dos braços a força
manobra os dedos ao escrever da idade, uma labareda
fechada, a límpida
ferida que me atravessa desde essa tua leveza
sombria como uma dança até
ao poder com que te toco.
...
E eu escrevo-te
Toda
A luz salta às golfadas.
A terra é alta.
E como estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outro.
[Herberto Helder]
Todas as tardes, um cardume de tardes, contigo.
Tudo,
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.
[António Ramos Rosa]
Não pude.
Todos os dias, noites, lugares, alturas, contigo.