Sei o que somos



Sei que sou o mesmo, que algo nos une irremediavelmente e nos sustém uma mesma matéria.

Há um mesmo sangue, um mesmo rio de vida que nos golpeia e uma mesma esperança que se faz angústia na garganta e no peito, sempre.
Cruzam-se nos espelhos os olhos, árvores, lagos, terras diferentes.

Comentários

Maria disse…
(ontem à noite):

O seu rosto: os olhos, os lábios. Olhou para mim. Eu vi os seus olhos parados em mim. Estava diante de mim. Nunca a distância que nos separara havia sido tão curta. Eu não tinha braços para lhe estender. Eu só tinha os meus olhos para a abraçar. Os nossos olhos eram atravessados pelo corpo fino das chamas que se levantavam no quarto.

Ela disse: a tua vida foi muito importante.

Eu amava-a ainda... O amor é o sangue do sol dentro do sol. Algo dentro de qualquer coisa profunda...

Ela disse: estavas certo desde o início, o amor é tudo o que existe.

Ela olhou muito para mim. Ela era o seu rosto de menina, a sua pele pura. Lembrei-me dos meus dedos sob a água limpa de uma fonte. Ela era a mulher mais bonita do mundo. Ela era a manhã sob o céu a iluminar a claridade.

Ela disse: amo-te.

Ela, o seu rosto puro, diante de mim, as chamas, o fogo, disse: amo-te... Eu sorri tanto. Fui feliz...

(esta manhã):

O amor é o sangue do sol dentro do sol... Levantam-se tempestades frágeis e delicadas na respiração vegetal do amor.

Algo dentro de qualquer coisa profunda. O amor é o sentido de todas as palavras impossíveis. Atravessar o interior de uma montanha. Correr pelas horas originais do mundo. O amor é a paz fresca e a combustão de um incêndio dentro, dentro, dentro, dentro, dentro dos dias. Em cada instante da manhã, o céu a deslizar como um rio. À tarde, o sol como uma certeza.

O amor é feito de tantas coisas opostas e verdadeiras.

[J.L.Peixoto]

Sim, sei o que somos.
Tudo,
Unknown disse…
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

[Alexandre O'Neill]

Sim, somos.
Tudo,

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