Digo
Que digo? Não está o que sinto impresso em todos os objectos que me rodeiam? Não está escrito na minha face, nos meus olhos, em todas as minhas acções? As minhas palavras, os meus suspiros, até o meu próprio silêncio, aquele silêncio tão profundo, não expressam os meus afectos? O ar, o ar do que sinto, dos meus desejos; o ar, sim, tantas vezes ferido pela minha voz, elevou-os até ao lugar onde ela mora.
Comentários
Saber o que és, dizer o teu corpo,
ouvir-te num breve instante,
dizer o que é amor sem o dizer,
tirar de mim um poema que te cante;
e ver passar-te por entre os dedos
o fio de luz que prende os teus olhos,
e vê-lo enrolar-se em segredos
quando a tua voz o apaga e acende;
tocar-te os lábios num fim de verso,
ver-te hesitar entre sorriso e mágoa,
perguntar se o teu rosto tem reverso,
e ter nele uma transparência de água:
é o que vejo em ti...
[N.Júdice]
E muito mais.
Tudo,
um nome de água
para que cresças no silêncio.
Invento a alegria
da terra que habito
porque nela moro.
Invento do meu nada
esta pergunta.
(Nesta hora, aqui.)
Descubro esse contrário
que em si mesmo se abre:
ou alegria ou morte.
Silêncio e sol – verdade,
respiração apenas.
Amor, eu sei que vives
num breve país.
Os olhos imagino
e o beijo na cintura,
ó tão delgada.
Se é milagre existires,
teus pés nas minhas palmas.
O maravilha, existo
no mundo dos teus olhos.
O vida perfumada
cantando devagar.
Enleio-me na clara
dança do teu andar.
Por uma água tão pura
vale a pena viver.
Um teu joelho diz-me
a indizível paz.
[A. Ramos Rosa]
Dou-te o nome de viver.
Tudo,