Que o homem é a mais nobre das criaturas, pode inferir-se de nenhuma outra ter contestado tal afirmação.
Blue Valentine
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Os seus olhos que mendigam, mas que não irão morrer de fome nem adormecer frios sob o céu se não receberem algo dela. Há pessoas que vivem uma vida caridosa e que acabam com os próprios filhos a pedir pão.
é porque existe o desejo, o olfacto, e o medo, e os vivos apaixonam-se por outros vivos, e lembram-se, por vezes, do enorme número de mortos, e dentro destes há alguns que os fazem desligar a luz e o trabalho, e o quotidiano aí já não basta, porque o coração tem em certos dias um orçamento incomportável
E não basta então a mulher que amamos, nem os filhos - os que nos vão sobrevive no tempo - e é preciso sair, e não basta sair para a rua e correr, é preciso sair dos ossos, fugir do obrigatório, à casa, encontrar dentro dos bolsos o bocado de uma carta, de um mapa, fragmento que possa reconstruir o caminho para a casa da infância onde Deus era chocolate e o resolvíamos assim, de uma vez, porque o comíamos
Porque mais tarde crescemos e ganhámos dinheiro, família, e alguns outros assuntos, mas perdemos qualquer coisa de que é impossível falar, de que não sabemos falar.
E é preciso isso tudo, e por quase tudo o que faltou dizer, é por isso que é bom, por vezes, suspender a noite e o coração, e obrigar o cérebro à paragem surpreendente.
E é por isso que é bom, por vezes, ocuparmos o corpo no acto de sentar, e pedir, então, à arte, à literatura, ao teatro, que nos salve, por enquanto, antes de morrermos.
Arriscar tem a ver com confiança. Uma pessoa sem confiança vai tentar repetir, fazer igual aos outros, não cometer erros, que é uma ideia muito valorizada. Mas o erro está ligado à descoberta. É fundamental não ter medo nenhum do erro. O que é o erro? Eu tinha previsto ir numa determinada direcção e não fui, errei. O erro é encontrar alguma coisa, algo que se cruza com o novo, o criativo.
Lisboa, 2015 (Fernando M.) Os comboios, como se parecem com a vida! Faltavam duas horas. Duas horas mais tarde, à chegada, saberíamos a sorte que nos esperava a todos. Duas horas.
Desde pequenos estavam marcados pelo amor. Por detrás da sua aparência quotidiana guardavam a ternura e o sol de meia-noite. As mães encontravam-nos a chorar por um pássaro morto. Estes seres viveram no mundo dos realizadores de sonhos, atacados ferozmente pelos portadores de profecias de catástrofes. Chamaram-lhes iludidos, românticos, pensadores de utopias. Os realizadores de sonhos faziam amor todas as noites. Desta forma recomeçou o mundo a sua vida.
F.J. Torgal Dois silêncios em separado que, reunidos, encontram a voz; dois olhares que juntos sorriem, agora perdidos como estrelas por detrás de árvores sombrias; duas mãos distantes em que toque se anseia; dois peitos de mútua chama, feitos o mesmo; dois, o mesmo mar.
Comentários
é porque existe o desejo, o olfacto, e o medo,
e os vivos apaixonam-se por outros vivos,
e lembram-se, por vezes, do enorme número de mortos,
e dentro destes há alguns que os fazem desligar a luz e o trabalho,
e o quotidiano aí já não basta,
porque o coração tem em certos dias um orçamento incomportável
E não basta então a mulher que amamos,
nem os filhos
- os que nos vão sobrevive no tempo -
e é preciso sair, e não basta sair para a rua e correr,
é preciso sair dos ossos,
fugir do obrigatório, à casa,
encontrar dentro dos bolsos o bocado de uma carta, de um mapa,
fragmento que possa reconstruir o caminho para a casa da infância
onde Deus era chocolate e o resolvíamos
assim, de uma vez, porque o comíamos
Porque mais tarde crescemos e ganhámos
dinheiro, família, e alguns outros assuntos,
mas perdemos qualquer coisa de que é impossível falar,
de que não sabemos falar.
E é preciso isso tudo,
e por quase tudo o que faltou dizer,
é por isso que é bom, por vezes,
suspender a noite e o coração,
e obrigar o cérebro à paragem surpreendente.
E é por isso que é bom, por vezes,
ocuparmos o corpo no acto de sentar,
e pedir, então, à arte, à literatura, ao teatro,
que nos salve,
por enquanto,
antes de morrermos.
Gonçalo M. Tavares
Assim tudo isto e ainda mais, contigo.
Beijo-te,
[Gonçalo M. Tavares]
Eu arrisquei.
Confio em ti.