Que o homem é a mais nobre das criaturas, pode inferir-se de nenhuma outra ter contestado tal afirmação.
A espera II
Obter link
Facebook
Twitter
Pinterest
Email
Outras aplicações
A sua vida estava escura e fria como orvalho nocturno, à espera de algo que o acendesse. Esta era a sua música, de quem procura em vão encontrar alguém semelhante. Estava preso na montanha rochosa, dormente, aguardando um toque.
"Com dificuldade, avançando alguns milímetros por ano, abro um caminho entre as rochas. Há milénios que meus dentes se gastam e minhas unhas se quebram para chegar além, ao outro lado, à luz, ao ar livre. E agora que minhas mãos sangram e meus dentes oscilam, mal seguros, numa cavidade gretada pela sede e pela poeira, detenho-me para contemplar minha obra: passei a segunda parte de minha vida a partir pedras, a perfurar as muralhas, a rachar as portas e a separar os obstáculos que interpus entre a luz e eu durante a primeira parte de minha vida.
Meu corpo arado pelo teu há-de tornar-se um campo onde se semeia um e se colhe um cento. Aguarda-me do outro lado do ano: encontrar-me-ás como um relâmpago estendido na orla do outono. Afaga meus seios de erva. Beija meu ventre... Em meu umbigo o turbilhão aquieta-se: eu sou o centro fixo que anima a dança. Arde, cai em mim... Morre em meu lábios. Nasce em meus olhos. De meu corpo brotam imagens: bebe nessas águas e recorda o que esqueceste ao nascer. Eu sou a ferida que não cicatriza, a pequena pedra solar: se me tocas, o mundo incendeia-se.
Aguardo-te neste lado do tempo onde a luz inaugura um ditoso reinado... Ali fenderás meu corpo em dois, para soletrar as letras do teu destino." Octávio Paz
"Este é o orvalho dos teus olhos. Esta é a rosa dos teus vales. O silêncio dos olhos está no silêncio das rosas. Tu estás no meio, entre a dor e o espanto da treva."
Lisboa, 2015 (Fernando M.) Os comboios, como se parecem com a vida! Faltavam duas horas. Duas horas mais tarde, à chegada, saberíamos a sorte que nos esperava a todos. Duas horas.
Desde pequenos estavam marcados pelo amor. Por detrás da sua aparência quotidiana guardavam a ternura e o sol de meia-noite. As mães encontravam-nos a chorar por um pássaro morto. Estes seres viveram no mundo dos realizadores de sonhos, atacados ferozmente pelos portadores de profecias de catástrofes. Chamaram-lhes iludidos, românticos, pensadores de utopias. Os realizadores de sonhos faziam amor todas as noites. Desta forma recomeçou o mundo a sua vida.
F.J. Torgal Dois silêncios em separado que, reunidos, encontram a voz; dois olhares que juntos sorriem, agora perdidos como estrelas por detrás de árvores sombrias; duas mãos distantes em que toque se anseia; dois peitos de mútua chama, feitos o mesmo; dois, o mesmo mar.
Comentários
Meu corpo arado pelo teu há-de tornar-se um campo onde se semeia um e se colhe um cento. Aguarda-me do outro lado do ano: encontrar-me-ás como um relâmpago estendido na orla do outono. Afaga meus seios de erva. Beija meu ventre... Em meu umbigo o turbilhão aquieta-se: eu sou o centro fixo que anima a dança. Arde, cai em mim... Morre em meu lábios. Nasce em meus olhos. De meu corpo brotam imagens: bebe nessas águas e recorda o que esqueceste ao nascer. Eu sou a ferida que não cicatriza, a pequena pedra solar: se me tocas, o mundo incendeia-se.
Aguardo-te neste lado do tempo onde a luz inaugura um ditoso reinado... Ali fenderás meu corpo em dois, para soletrar as letras do teu destino." Octávio Paz
Amo-te,
Esta é a rosa dos teus vales.
O silêncio dos olhos está no silêncio das rosas.
Tu estás no meio,
entre a dor e o espanto da treva."
[J.A.Baptista]
Tu estás em mim.