A espera II



A sua vida estava escura e fria como orvalho nocturno, à espera de algo que o acendesse. Esta era a sua música, de quem procura em vão encontrar alguém semelhante. Estava preso na montanha rochosa, dormente, aguardando um toque.

Comentários

Maria disse…
"Com dificuldade, avançando alguns milímetros por ano, abro um caminho entre as rochas. Há milénios que meus dentes se gastam e minhas unhas se quebram para chegar além, ao outro lado, à luz, ao ar livre. E agora que minhas mãos sangram e meus dentes oscilam, mal seguros, numa cavidade gretada pela sede e pela poeira, detenho-me para contemplar minha obra: passei a segunda parte de minha vida a partir pedras, a perfurar as muralhas, a rachar as portas e a separar os obstáculos que interpus entre a luz e eu durante a primeira parte de minha vida.


Meu corpo arado pelo teu há-de tornar-se um campo onde se semeia um e se colhe um cento. Aguarda-me do outro lado do ano: encontrar-me-ás como um relâmpago estendido na orla do outono. Afaga meus seios de erva. Beija meu ventre... Em meu umbigo o turbilhão aquieta-se: eu sou o centro fixo que anima a dança. Arde, cai em mim... Morre em meu lábios. Nasce em meus olhos. De meu corpo brotam imagens: bebe nessas águas e recorda o que esqueceste ao nascer. Eu sou a ferida que não cicatriza, a pequena pedra solar: se me tocas, o mundo incendeia-se.

Aguardo-te neste lado do tempo onde a luz inaugura um ditoso reinado... Ali fenderás meu corpo em dois, para soletrar as letras do teu destino." Octávio Paz

Amo-te,
Unknown disse…
"Este é o orvalho dos teus olhos.
Esta é a rosa dos teus vales.
O silêncio dos olhos está no silêncio das rosas.
Tu estás no meio,
entre a dor e o espanto da treva."

[J.A.Baptista]

Tu estás em mim.

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