Ser dois
Ser um insecto quieto sobre uma
flor, a felicidade de uma hora. Ser uma nuvem, a soprar tons de anil,
sombreando montanhas, apressando-se ruidosamente em vales profundos onde as
correntes guardam trovões pungentes e arcadas de névoa. Ser uma onda
fragmentando-se na areia e abandonando lentamente a terra. Contar histórias de
grutas de coral meio escondidas.
Cedo morrem as flores; os
insectos vivem um dia; as nuvens dissolvem-se em chuva; apenas as ondas
permanecem neste não permanecer.
Comentários
fim das ondas, um homem com uma dança
dentro dos olhos. Está a ser pintado por uma
mão antiga e, atrás dele, uma mulher deita-se
em cima do vidro enquanto os pássaros e as
formigas esperam, encostados a uma trepadeira.
Um sopro aproxima-se, uma coisa a arder no
barro. É o vaso com pólenes trazido pelo
pedreiro. Coloca-o à sua frente como se estivesse
sentado num eucalipto e vislumbrasse uma
jovem rapariga a acender um forno para secar
o seu próprio cabelo."
Jaime Rocha.
E assim, para sempre.
Beijo-te,
na busca de cada movimento, ou arquejo do peito
sigo o ouvido
atenta ao sussurro e ao suspiro"
[angela santos]
sigo-te,