Os lugares abandonados



Uma hora e meia. Uma hora. Já descia a obscuridade. Vimos ao longe as luzes da nossa cidade, reverberantes, um halo amarelo, voltou a dar-nos um pouco de coragem. Por pouco tempo. Ainda que o comboio se movesse, a estação estava deserta. Por mais que procurasse não consegui encontrar uma figura humana. Por fim, o comboio parou. Que teria passado? Encontraríamos alguém na cidade?
De repente, a voz de uma mulher, violenta como um disparo. “Socorro!”, um grito com a sonoridade oca dos lugares abandonados para sempre.

Comentários

Maria disse…
"O homem comprou o seu bilhete e ei-lo a percorrer países como se trouxesse dentro de si, acesa, uma lâmpada - e para ela todo se inclinasse enquanto as cidades, os povos, as línguas, são atravessados, abandonados - eximidos às atenções e tentações da ternura. Assim se perde uma vida, ou serviu ela apenas para este ganho obscuro: a pureza adquirida na desordem, e depois a fusão dos dias múltiplos numa única noite originária."

Herberto Helder in, Os Passos Em Volta

Beijo-te,
Unknown disse…
"Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedra ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes –
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu."

[Alvaro de Campos]

Beijo-te,
Anónimo disse…
http://cween-crazy.blogspot.pt/2012/04/premio-dardos.html
Unknown disse…
Muito obrigado por mais uma distinção, Cármen! É sempre bom saber que o que escrevo também chega a outras pessoas.

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