Instruções de Voo
Abria os seus braços na esperança de voo,
apanhando o vento e segurando-o bem. Esticando como uma vela a cada subtil
soprar, vencendo a gravidade sem margem de erro, voando para lá da humana
possibilidade, para o improvável, e entrando no domínio da liberdade sem peso. Imparável.
Acima das nuvens de um céu em tons de laranja, sobrevoava dia e noite, daqui a
uma eternidade ao virar das estrelas. Era um cosmonauta a flutuar que deixava o
mundo para trás.
Vivia a aventura como um sonho épico, desvinculado
da racionalidade convencional. Encontrava-se a dançar por entre nuvens, circum-navegando
o universo, orgulhoso da sua própria imprudência. Assistia a revelações de
proporções astronómicas na primeira pessoa.
Comentários
sonharemos talvez que levantamos voo,
porque muitas vezes, mesmo agora, ouço o ruído
do meu vestido
como o ruído de duas asas poderosas no seu
ímpeto,
e quando se é apanhado nesse ruído de voo
sente-se a garganta apertada, os flancos, a carne,
e apertada assim nos músculos do ar azulado,
apanhado nos robustos nervos da altura,
pouco importa que se chegue ou se parta...
Sei bem que caminhamos sozinhos para o amor,
sozinhos para a glória, sozinhos para a morte.
Sei-o. Experimentei-o. De nada serve.
Deixai-me ir convosco."
Yannis Ritsos
Beijo-te,
a asa de uma borboleta"
[cecília meireles]
beijo-te,