Que o homem é a mais nobre das criaturas, pode inferir-se de nenhuma outra ter contestado tal afirmação.
Viver II
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Hás-de tomar a sério o viver que aos quarenta anos, se for necessário, plantarás oliveiras sem pensar que algum dia serão para os teus filhos; deves fazê-lo, amigo, não porque não acredites na morte mas porque viver é a tua tarefa.
Contaram-me que existem homens queimando a vida a cuidar de jardins. Regam, transplantam, enxertam, podam, cavam - como se este contínuo trabalho de renovação os prolongasse para além de seus próprios corpos... a lenta e misteriosa aprendizagem de nascer, morrer e renascer... os jardins são labirínticas arquitecturas mentais onde podemos resguardar o corpo de qualquer voragem do tempo. A mim, basta-me o espanto da flor que murcha quando, no mesmo ramo, outra flor expande as pétalas ao sol.
(fiquei a pensar na plantação de oliveiras e, não resisto a partilhar - a inundar - este teu precioso espaço com uma outra árvore...)
Cada árvore é um ser para ser em nós Para ver uma árvore não basta vê-a a árvore é uma lenta reverência uma presença reminiscente uma habitação perdida e encontrada À sombra de uma árvore o tempo já não é o tempo mas a magia de um instante que começa sem fim a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas e de sombras interiores nós habitamos a árvore com a nossa respiração com a da árvore com a árvore nós partilhamos o mundo...
deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te e as loucas aveias que o ácido enferrujou erguerem-se na vertigem do voo - deixa que o outono traga os pássaros e as abelhas para pernoitarem na doçura do teu breve coração - ouve-me
Aquele que diga a primeira palavra deixará cair o primeiro vaso, aquele que golpeie o seu assombro com violência verá aparecer o fogo nos seus cabelos, aquele que ria em voz alta será o primeiro a guardar silêncio, aquele que desperte antes de tempo surpreenderá o seu corpo entre as árvores; e o mar, como algo interrompido, volta a ouvir-se ao longe e na sua respiração escutamos outra vez o ruído daquela porta que bate empurrada pelo vento.
Chega a hora maravilhosa, quando a natureza desperta do sonho e um novo mundo quebra a face terrestre. As estrelas empalidecem no céu sombrio e sobre as montanhas rastejam as névoas de um mundo em vigília. Pássaros inquietos nas copas das árvores estremecem as suas asas. O amanhecer chega rápido. Dispersam-se agora as névoas da face montanhosa e morrem em azul celeste; passa a madrugada, apresenta-se aqui o dia.
Comentários
Al Berto
Abraço-te,
Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-a
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo...
A.R.Rosa
mais um abraço para ti,
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo - deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração - ouve-me
Al Berto
Abraço-te,