Escolher a morte II



Estou prestes a desertar do meu corpo neste momento. Vou largar o volante à chegada da curva, todas as culpas e uma caneta envenenada. Vou esquecer o salmão para o jantar e a salada. Os meus planos serão redistribuídos.
Alguém que tire uma foto dos destroços, dos salpicos vermelhos, a mim, o mesmo de sempre, apenas sozinho de vez.

Comentários

Maria disse…
Estendi-me na minha prisão...
Como um morto razoável que soube morrer
Um morto cercado apenas pelo seu nada
Estendi-me sobre as vagas absurdas

A solidão pareceu-me mais viva que o sangue

Queria desunir a vida
Queria partilhar a morte com a morte
Entregar meu coração ao vazio e o vazio à vida

[mas...]

Tu vieste o fogo então reanimou-se
A sombra cedeu o frio de baixo iluminou-se de estrelas
E a terra cobriu-se
Da tua carne clara e eu senti-me leve
Vieste a solidão fora vencida
Eu tinha um guia na terra
Sabia conduzir-me sabia-me desmedido
Avançava ganhava espaço e tempo
Caminhava para ti dirigia-me incessantemente para a luz

A vida tinha um corpo a esperança desfraldava as suas velas...

P. Eluard

...tudo,
Unknown disse…
Nas
tuas mãos
está guardado um segredo
que eu procuro desvendar
nas tuas mãos
vislumbro o afago
que espanta o medo

Das tuas mãos
sobe uma melodia
que embebeda meus olhos
e as minhas se as tocam
cercam-nas como prisão
por tanto quererem
em si guardá-las

(Angela Santos)

Nas minhas mãos, tudo.
...tudo,
Anónimo disse…
Acaricia-as: tocas
a parte mais sensível de ti mesmo.
Dizias ontem que o verão ardia
nesta pedra. Nela
queimavas as tuas mãos. Onde
as aqueces hoje? Eu digo:
o verão não morreu, esta pedra é o verão.
E tudo permanece. E tudo é teu.
Tu és sangue, o verão e a pedra.

A.M.

...-te, tudo.

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