Hábeis e cães
O teu sangue derramado pede vingança. Mas no meu deserto já não cabem espelhos. Sou um alienado. Todo o que me acontece agora no sonho resolve-se e muda de aspecto sob a luz ambígua da lâmpada sobre o sofá. Eu sou o verdadeiro assassino. O outro já está preso e desfruta de todas as honras da justiça enquanto eu naufrago na liberdade. Para me consolar, contam-me velhas histórias de erros judiciais. Por exemplo, a de que Caim não é culpado. "Serei o superego do meu irmão?" Justificou assim um drama familiar primitivo, cheio de reminiscências infantis. Para eles, todos são abeis e caíns que trocam e disfarçam a sua culpa. Mas eu não me dou por vencido. Não irei omitir: foi-me transmitido literalmente, de geração em geração, o instrumento do crime.
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Max Aub in, Crimes Exemplares
Abraço-te,
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo
morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma
morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma
[Paulo Leminski]
Abraço-te,
eu morrerei contigo.
Herberto Helder in, O Amor em Visita
Tudo,