Anatomia
Para além da dor e do prazer, a carne que fala numa linguagem de sombras e cores difusas, a carne convertida em paisagem, em terra, em acontecimento, em oceano, em animal e em evidência. Espreitando a carne tão aberta e próxima, vejo ali a vida: o real.
O cabelo às vezes tão perto e essa face onde o toque confunde o dia com a noite, fresca bela vida, a metade da cama onde os membros se enlaçam enquanto a língua passa como uma flor carnívora entre os dentes.
A voz entrecortada do amar, saciando-te, saciando-se, saboreando. Os mundos, os ossos que seguram o corpo, essa fome, essa felicidade como o céu aberto. A terra gira, a carne aquece, muda a paisagem, passam as horas.
Comentários
Ela olhou muito para mim. Ela era o seu rosto de menina, a sua pele pura. Lembrei-me dos meus dedos sob a água limpa de uma fonte. Ela era a mulher mais bonita do mundo. Ela era a manhã sob o céu a iluminar a claridade. Ela disse: "amo-te". Ela, o seu rosto puro, diante de mim, as chamas, o fogo, disse: "amo-te..." Eu sorri tanto. Fui feliz e, nesse momento, morri.
[José Luís Peixoto]
Eu digo: Amo-te. E tudo, tudo.
Contigo,
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
[Alexandre O'Neill]
Um imenso amor, este.
Contigo,