A prova
Eu retirei-me para a floresta, e as minhas palavras foram engolidas pelas folhas; e um dia chegas tu aos seus limites (era isto por que esperava), permaneceste ali contemplativa mas não entráste, apesar de ser forte o desejo: abanaste a cabeça como quem diz “não me atrevo”.
Eu espreitava-te atrás de ramos baixos, desfiz a angústia de não te chamar e disser-te “estou aqui”. Estou perto, acordei com a floresta e tu aqui és a prova.
Comentários
O medo da solidão e da morte são a própria essência do deserto. O medo de nos perdermos. O medo de todas as verdades. O medo de sermos engolidos.
Só quando o medo de estar a sós com o mais fundo de ti mesmo desaparece, só quando tocas esse fundo do deserto, só então sentes o valor de querer viver, sabes que a paixão é motor da vida e prova do medo. Como o deserto. Como tu tens sido para mim. E agora sei deste lugar que amarmos acima do medo nos faz parecer insconcientemente leves. O medo é bom para nos lembrar que é preciso um chão para segurar a paixão.»
[Carlos Quiroga in, Espero por ti na Abissínia]
Tu és a prova.
Tudo, apaixonadamente.
Contigo,
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita
[Mário Cesariny]
Apaixonadamente tudo, contigo.