Sonambulismo
Sonhei que dormia, e nesse sono sonhava, e desse duplo sonho interior acordei e caminhei num patio fechado. Alguém falou atrás de mim, e eu virei-me. Uma mulher focou olhos cor de avelã em mim. Eu fitei-a. 'Tal como tu parecias em sonho para sonhar, pelo golpe duplo de acordar no acordar, daqui podes ser resgatado. ‘
Quando entrar no meu último sono mortal, depois de todos os sonhos terem desaparecido, irei então acordar duplamente, conservar esse jardim na minha mente e regressar, erguendo-me da profunda angústia da morte. Sonambulo ou antes acordado?
Comentários
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.
Uma mulher com quem beber e morrer.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.
Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.
[Herberto Helder]
Sim, contigo.
Assim, tudo e imenso.
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
[Sophia de Mello Breyner]
Contigo, a imensidão de tudo.
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
[Sophia de Mello Breyner]
Contigo, a imensidão de tudo.