A praia
Somos atirados ao mar e presos à sua costa, somos náufragos pelos ventos que sopram. Ondas de pesar atacam o nosso navio e varrem o convés, desmontam mastros. A linha da costa está escondida pelos destroços de planos extraviados, de pessoas perdidas. Tacteamos a escuridão, adiante uma luz, regressa uma doce esperança, o sentir guia-nos até à praia.
Comentários
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
e entre nós e as palavras, o nosso dever de falar
[Mário Cesariny]
Contigo.
Assim, tudo.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.
Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova.
[Eugénio de Andrade]
Digo o teu nome.