Do que ama
Não o vento mas o sol suave que restringe o rebento. De todas as palavras de delicada cortesia e profundo respeito com as quais cheguei carregado ao teu lado, apenas direi uma. Aceita-a, a escolhida, a que foi a génese de toda a linguagem desde a primeira hora apaixonada em que um sorriso se tornou a morada do amante (do que ama).
Comentários
viajei (sem que soubesses) no teu interior.
Fiz-me degrau para pisares, mesa para comeres,
tropeçavas em mim e eu era uma sombra
ali posta para não reparares em mim.
Andei pelas praças anunciando o teu nome,
chamei-te barco, flor, incêndio, madrugada.
Em tudo o mais usei de parcimónia
a que me forçava aquele ardor exclusivo.
Hoje os versos são para entenderes.
Reparto contigo um óleo inesgotável
que trouxe escondido aceso na minha lâmpada
brilhando (sem que soubesses) por tudo o que fazias.
[Fernando Assis Pacheco]
A amante, aquela que ama.
Beijo-te,
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.
[Eugénio de Andrade]
A todas as nossas manhãs,