Que o homem é a mais nobre das criaturas, pode inferir-se de nenhuma outra ter contestado tal afirmação.
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Cada minuto é um curto degrau e cada hora um passo em direcção a ti. Esta verdade, e a vitória conseguida perante mim, a prioridade da vida. O meu pulsar, como um tambor suave, acompanha a minha chegada; vou finalmente sentar-me ao teu lado.
Eu cantei este amor sem que soubesses. Falei de ti com as palavras mais limpas, viajei (sem que soubesses) no teu interior. Fiz-me degrau para pisares, mesa para comeres, tropeçavas em mim e eu era uma sombra ali posta para não reparares em mim.
Andei pelas praças anunciando o teu nome, chamei-te barco, flor, incêndio, madrugada. Em tudo o mais usei de parcimónia a que me forçava aquele ardor exclusivo.
Hoje os versos são para entenderes. Reparto contigo um óleo inesgotável que trouxe escondido aceso na minha lâmpada brilhando (sem que soubesses) por tudo o que fazias.
[Fernando Assis Pacheco]
e agora,
vivo agora um sentir de vinte anos que se tornou o meu futuro,
Com lento amor olhava os dispersos Tons da tarde. A ela comprazia Perder-se na complexa melodia Ou na curiosa vida dos versos. Não o rubro elemental mas os cinzentos Fiaram seu destino delicado, Feito a discriminar e exercitado Na vacilação e nos matizes. Sem se atrever a andar neste perplexo Labirinto, olhava lá de fora As formas, o tumulto e a carreira, Como aquela outra dama do espelho. Deuses que habitam para lá do rogo Abandonaram-na a esse tigre, o Fogo.
Aquele que diga a primeira palavra deixará cair o primeiro vaso, aquele que golpeie o seu assombro com violência verá aparecer o fogo nos seus cabelos, aquele que ria em voz alta será o primeiro a guardar silêncio, aquele que desperte antes de tempo surpreenderá o seu corpo entre as árvores; e o mar, como algo interrompido, volta a ouvir-se ao longe e na sua respiração escutamos outra vez o ruído daquela porta que bate empurrada pelo vento.
Chega a hora maravilhosa, quando a natureza desperta do sonho e um novo mundo quebra a face terrestre. As estrelas empalidecem no céu sombrio e sobre as montanhas rastejam as névoas de um mundo em vigília. Pássaros inquietos nas copas das árvores estremecem as suas asas. O amanhecer chega rápido. Dispersam-se agora as névoas da face montanhosa e morrem em azul celeste; passa a madrugada, apresenta-se aqui o dia.
Comentários
Falei de ti com as palavras mais limpas,
viajei (sem que soubesses) no teu interior.
Fiz-me degrau para pisares, mesa para comeres,
tropeçavas em mim e eu era uma sombra
ali posta para não reparares em mim.
Andei pelas praças anunciando o teu nome,
chamei-te barco, flor, incêndio, madrugada.
Em tudo o mais usei de parcimónia
a que me forçava aquele ardor exclusivo.
Hoje os versos são para entenderes.
Reparto contigo um óleo inesgotável
que trouxe escondido aceso na minha lâmpada
brilhando (sem que soubesses) por tudo o que fazias.
[Fernando Assis Pacheco]
e agora,
vivo agora um sentir de vinte anos que se tornou o meu futuro,
a minha felicidade, o meu mais desejado presente.
[F.M.]
Assim mesmo.
Tudo, muito.
Tons da tarde. A ela comprazia
Perder-se na complexa melodia
Ou na curiosa vida dos versos.
Não o rubro elemental mas os cinzentos
Fiaram seu destino delicado,
Feito a discriminar e exercitado
Na vacilação e nos matizes.
Sem se atrever a andar neste perplexo
Labirinto, olhava lá de fora
As formas, o tumulto e a carreira,
Como aquela outra dama do espelho.
Deuses que habitam para lá do rogo
Abandonaram-na a esse tigre, o Fogo.
[J.L.Borges]
Assim mesmo, entregues a este fogo.
Tudo, imenso.