A fonte
The Fountain, Darren Aronovsky
Tens um sorriso de rara luminosidade, a beleza é um palácio a que chamas casa. Somos pobres em riqueza terrena, ricos em sentir; e quem assim se sente é rico em tudo. O centro do Oceano – espesso. O centro do Céu, com enxames de palavras – o espólio do velho mundo e a obscuridade dos diamantes, a dimensão de noites estelares.
Rico é quem dá santuário a esta imortal forma de sentir.
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Paisagem fresca e calma onde passam histórias irrealizáveis, o sono
repousava sobre nós.
Nenhuma espada precisava de nos separar.
Um peso delicioso, pesando na minha perna, despertou-me.
Reconheci o teu pé.
Soube então, por um homem e uma mulher que se conhecem, o que era estar deitado lado a lado.
A única mulher com quem teria podido envelhecer era a Fernanda; a idade não seria capaz de empobrecer a nossa riqueza comum.
Compreendo agora o que uma tal fonte tinha de inesgotável, de constante, como uma abundância que nunca enfraquecia. Assim é o amor sobre o qual o tempo não faz mais do que avivá-lo: as suas raízes estendem-se até não deixar nada que não abracem.
O amor é o único mito de pura exaltação que a humanidade conheceu.
O único que parte do coração do desejo e visa a sua satisfação total.
O único grito de angústia capaz de se metamorfosear em canto de alegria. Com o amor, o maravilhoso perde o carácter sobrenatural, extraterrestre ou celeste que possui em todos os mitos, regressando de algum modo à sua origem para se inscrever nos limites da existência humana.
Dando corpo às aspirações do indivíduo, o amor oferece uma vida de transmutação que culmina no acordo da carne e do espírito, tendente a fundi-los numa unidade superior. O desejo, no amor, longe de perder de vista o ser de carne que lhe deu origem, sublima o seu objecto numa espécie de sexualização do universo que restabelece no homem uma coesão anteriormente existente.
O amor não admite a menor restrição: tudo ou nada, sendo o tudo a vida e o nada a morte.
Ernesto Sampaio in, Fernanda
Assim é.
Amo-te,
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro."
[Nuno Júdice]
Assim é.
Amo-te,