Carta ao meu avô



Escrevo para ti desta vez para dizer-te as coisas que a boca de uma criança não consegue dizer. Escrevo-te para libertar o que sinto, escrevo-te enquanto a dor te invade e uma outra faz tremer o chão que piso ameaçando engolir-me.
Escrevo-te para que possas imaginar este neto perante ti, pensar como cresceu mais rápido que o tempo e nas vezes que estiveste presente a vê-lo crescer. Escrevo-te em esperança de outros tantos abraços, de voltar a sentir os teus braços dobrar-se perfeitamente sobre mim, de estarmos juntos noutro local (onde devíamos estar e não aqui).

Escrevo-te na possibilidade de me escreveres também e iniciar assim uma correspondência de duração indeterminada. Escrevo-te desta minha parte que te adora, deste meu todo.

Comentários

Maria disse…
"DEPOIS DA MORTE DE ALGUÉM

Foi um choque

seguido de um cometa que deixa atrás de si uma cauda imensa e cintilante.

Obriga a que nos recolhamos."

Tomas Tranströmer

Abraço-te longamente e assim fico ao teu lado.
Sempre,
F. Alegria disse…
‎"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?" Fernando Pessoa
Unknown disse…
"Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação."

[C.D.de Andrade]

O mundo ficou mais pobre com a tua ausência, avozinho.

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