A manhã
Acordo dorido de não ter ficado nesse espaço. Uma ilha não inscrita em nenhum
mapa, uma célula doente de ignorância, um mundo asfixiado em miniatura, uma humanidade
avançada, em fogueiras homicidas.
Uma só tábua, sem naufrágio sequer, lutando por alcançar a costa e animada apenas
pela recordação. Morro de sede e fome enquanto desperta o dia. Eu estou abaixo,
debaixo da história sepultada em velas apagadas. Submerso em humores subterrâneos
e em cinzas de ossos, sou o ser que não fui, o que não pude, o esquecido, mas
existo. Dentro tenho alguém que me chama, sem me nomear. Dou-me conta, dou-me conta,
eu existo.
Amanhã desperto, a cantar.
Comentários
não existir saída." Gonçalo M. Tavares
Apaixonadamente,
que o meu coração seja igual a ti, poente!
descobre em mim o eterno, o que arde, o que ama,
...e o vento do esquecimento arraste o que é doente!"
[Juan Ramón Jiménez]
Apaixonadamente,