Que o homem é a mais nobre das criaturas, pode inferir-se de nenhuma outra ter contestado tal afirmação.
E tu
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As sombras, o alento, a vida, logo a luz que de repente entra e tu com ela. Os cegos podem com o tacto comprovar o amado, o meu corpo é todo tacto na tua presença.
Ela diz que quer ser esmagada pelo corpo do homem com o dobro do seu peso. Está deitada na cama, na obscuridade, com os olhos muito abertos. De tronco nu, ele está sentado. Pergunta-lhe sem virar a cabeça: Serás capaz de aguentar? Ela diz que gosta mesmo de se esmagada até perder o fôlego. Depois ri...
A cortina move-se, ele afasta-se. A silhueta da mulher perfila-se na janela. Abre-a, cá fora telhados escuros, ao longe, o encadeado das varandas e das mansardas dos antigos edifícios, o céu azul límpido, embora não se saiba dizer se é o cair da noite ou a manhã. A mulher vira-se, o seu corpo e o seu rosto estão difusos, só os olhos brilham intensamente, como os olhos de gato na escuridão.
Um beijo em lábios é que se demora e tremem no abrir-se a dentes línguas tão penetrantes quanto línguas podem. Mais beijo é mais. É boca aberta hiante para de encher-se ao que se mova nela. É dentes se apertando delicados. É língua que na boca se agitando irá de um corpo inteiro descobrir o gosto e sobretudo o que se oculta em sombras e nos recantos em cabelos vive. É beijo tudo o que de lábios seja quanto de lábios se deseja.
Aquele que diga a primeira palavra deixará cair o primeiro vaso, aquele que golpeie o seu assombro com violência verá aparecer o fogo nos seus cabelos, aquele que ria em voz alta será o primeiro a guardar silêncio, aquele que desperte antes de tempo surpreenderá o seu corpo entre as árvores; e o mar, como algo interrompido, volta a ouvir-se ao longe e na sua respiração escutamos outra vez o ruído daquela porta que bate empurrada pelo vento.
Chega a hora maravilhosa, quando a natureza desperta do sonho e um novo mundo quebra a face terrestre. As estrelas empalidecem no céu sombrio e sobre as montanhas rastejam as névoas de um mundo em vigília. Pássaros inquietos nas copas das árvores estremecem as suas asas. O amanhecer chega rápido. Dispersam-se agora as névoas da face montanhosa e morrem em azul celeste; passa a madrugada, apresenta-se aqui o dia.
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A cortina move-se, ele afasta-se. A silhueta da mulher perfila-se na janela. Abre-a, cá fora telhados escuros, ao longe, o encadeado das varandas e das mansardas dos antigos edifícios, o céu azul límpido, embora não se saiba dizer se é o cair da noite ou a manhã. A mulher vira-se, o seu corpo e o seu rosto estão difusos, só os olhos brilham intensamente, como os olhos de gato na escuridão.
[Gao Xingjian in, A Montanha da Alma]
És tu. E eu contigo.
Tudo, cada vez mais.
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.
[Jorge de Sena]
Inteiros.
Tudo, cada vez mais.