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A mostrar mensagens de fevereiro, 2010

Entre montes III

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Nesta colina verde que se ergue como uma onda, parece-me que vejo o vencido preparado para a guerra. Há fogo escondido no seu olhar firme. Agora, com o declinar do dia, ouço os sinos de aldeias distantes: e assim flutua a sua música no ar crepuscular.

Entre montes II

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Uma tristeza sepulcral habita estes bosques. Há um escasso feixe da distante luz solar que perfura o maciço das copas e ilumina a terra. Como é profundo o silêncio. Interropido apenas pelo sussurro do vento inquieto ao passar por estes bosques velhos. Chega-nos ao ouvido a estranha melodia feita aqui na morada selvagem. E agora, que as sombras incertas desvanecem e os pináculos das aldeias mais remotas se escondem; e as árvores-sombra se alongam, celebramos a tão esquecida vida.

Entre montes I

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Tempo Invernal. Porque se queixam? O cinzento da paisagem é aos seus olhos apenas um símbolo da sua própria decadência, um desvanecimento da vida humana. E agora cai o sol, retira-se. Longe no ocidente, marcamos o ponto onde desaparece. Reuniram-se 100 montes num grupo sombrio, uma centena de vales ocos. Parece-me que estão lá, vestidos com a panóplia bélica e ansiosos para a corrida desoladora de uma batalha de doidos.

Dias elevados

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No silêncio da noite fria ouço claramente uma música que me canta o ano que passou. Caminhamos pelos corredores do Inverno indiferentes ao partir do tempo. Por dias de Verão sem melancolia, dias elevados com a estranha promessa do eterno. Parecem-me reunir o fogo mesmo quando aumenta o frio. Adorna a noite, liberta as nuvens; e na sua face (a lua radiante) surge um sorriso.

O tempo e a amada

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São belos os teus dias fugazes, quando brilham no teu rosto. Ouço a tua voz profunda a atravessar paredes, muros em ruínas, o som que me chega como um batimento cardíaco, ou de uma queda de água distante. Ela chega e, ao mover-se, os pássaros cumprimentam-na. As plantas tremem ao passar do vento.

Agora é um ritmo

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Nos bosques agora mais verdes e um céu que dá sinais de serenar, as folhas no chão, e a terra molhada. As flores ganharam um novo aroma, tremem à medida do vento. Há algo de revigorante neste Inverno. Como um homem orgulhoso pelos primeiros cabelos brancos. Escrevo sobre o Inverno de partida e a melancolia de dias dourados de Verão, ao ritmo de um animado bater de coração.

Presente perfeito

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Uma luz côr de avelã ao longo do muro coberto de musgo; a sensação de algo encontrado, de prazer. Tudo o que poderá ser, de enorme, de prazer, apertamo-lo entre nós. Crescemos – trazemos esboços de verão -. Juntos fazemos um perfeito presente.

O lento avançar

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O mundo veste-se agora; as ondas estão mais azuis, e nós montamos o nosso acampamento algures entre nuvens. Os montes distantes estão cobertos de uma neblina púrpura; amadurecem os dias e aumentam as noites ao lento avançar do Inverno.

Somos sombras

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Escuta, a música lenta de passagem. A música pálida, que à passagem muda páginas. O céu perdeu agora o amanhecer que permanece nos teus olhos. Consegues ouvir o cair da fruta? Dentro dos sons nocturnos, dentro da noite onde caminhamos, dentro da noite somos sombras.

Beleza

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Ele desenhava-a, os ruídos lá fora nada significavam. Enquando ouvia apitos, motores e berbequins, pensava em amarelo, em vermelho sangue, e sorria à medida que a figura dela ia surgindo.

Paisagem

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Apesar do Inverno, ele sentia a primavera; ninguém o poderia descrever e no entanto ele sentia, escutava-a perto. Algo o convidava; há uma casa por detrás daquele monte, um caminho aleatório entre a vegetação. A vida, como a natureza, aceita sugestões do que se deseja; aquilo que mais se deseja tem o poder de conduzir e mostrar-nos ao lado mais intenso da vida. Segui o caminho, esperando encontrá-la.

Um artísta português III

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O seu sofa permaneceu vazio encostado à parede, aquela face triste perdeu-se na manhã. O seu pulsar aumentava, fixou o olhar ansioso. "Por um vislumbre antes da lágrima, pudesse eu apertar a mais fria nuvem contra o peito!" Passaram algumas semanas; à distância, uma ténue linha de azul pálido que o olhar havia percorrido dia após dia. Levantaram-no então do sofá – o artista tinha voado.

Um artísta português II

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A sua vida selvagem, apaixonada, de chamas, foi gasta – o seu sonho de fama; entra as paredes da arte gloriosa o seu nome nunca constou. Um pensamento diluído de cenas caseiras varre-lhe a mente fraca – cenas familiares; ele curva a cabeça, chora. “Deixem-me respirar o meu ar nativo uma vez mais antes de morrer! Deixem-me trilhar as minhas montanhas e ficar sob a sombra dos pinheiros!" Tiraram-no do calor da cidade, do seu ofuscamento doloroso, para junto de um rio sossegado de ar fresco e perfumado. As parras em redor da porta, trepadeiras e a voz grave da água crescem ao entardecer. Ao longo da noite mistura-se suavemente com os seus sonhos, estremecem os ramos das laranjeiras lá fora.

Um artísta português I

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Em cima do seu sofá ao crepúsculo, com um olhar irrequieto, um artista perante as cores pálidas do céu lisboeta. A luz difusa, suave e persistente é desperdiçada. Esvai-se. Estranhamente manso, aqueles olhos escuros pareciam derreter os céus. Sobre ele passa uma humidade súbita, como neblina sobre uma estrela. Ele baixa a cabeça e pressiona-a contra a palma da mão, como que para esmagar o pensamento.

Aquele

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Eu sou o vento solto na montanha, eu e o fogo que aquece as nossas noites, acendendo volcões nas nossas mãos, molhando-nos os olhos com o fumo das crateras. Eu sou o caminho por explorar, a claridade que rompe a neblina. Eu coloco estrelas entre a tua pele e a minha, descalço o meu sentir, dispo o meu medo. Eu sou um nome que ama, sou o prolongamento do teu sorriso e do teu corpo. Eu sou algo que cresce, algo que ri e chora. Eu, aquele que te quer.

Eu, quem te quer

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Eu esperava suspenso o abraço; um abraço de quatro braços vestido de febre, um voo. E podem ser os braços quatro raízes de dois novos seres. E esperava suspenso o abraço…

Profundo

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Acaso foi uma ilusão alimentada por um profundo desejo, ou foi um renascer real? Apareceste uma noite. Caminhaste para mim, como se estivesses a andar sobre um lago… Mais tarde, irias inclinar-te sobre mim como se o meu corpo fosse o início do teu destino; e eu olhava-te como milagre. Tu inclinavas-te mais e mais… e tanto te inclinaste que toda a tua vida se imprimiu na minha.

Sempre

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Apareces. A vida é certa, o cheiro da chuva é certo; a chuva desperta-te. A cidade, o mar e a noite abrem-se ao teu passar. Com animais nocturnos nos olhos, com a noite que regas aos poucos, com o silêncio e o oscilar de luzes e a sombra mais escura e as tuas palavras. Chegas e és onde flutuo. Chegas e rodeias-me de sombra e tornas-me luminoso e inundas-me. Enlaço-me no teu corpo pendente até aos teus pés, na noite terrestre que te segue. Enlaço-me a um sentir que nasce sem cessar e nos envolve, a esta luminosa ligação da minha vida: a tua existência.